Quando era adolescente eu não gostava de ser chamado ou ser
tratado como criança, considerava que estavam me infantilizando. Ao usar a
palavra “criança” não o faço de maneira pejorativa ou negativa, infantilizando
as atitudes impensadas de jovens e adultos.
Perdi muita coisa boa por não querer ser criança, desejava ser adulto
logo. Imaginava ter a liberdade dos adultos, mas não tinha noção da
responsabilidade. Acreditava que estudando muito conseguiria crescer mais
rápido, eram os anos 60 e início dos anos 70, o mundo estava passando por uma
revolução cultural, as coisas não eram fáceis. O sonho do curso superior era
para os “ricos”, poucos pobres conseguiam ingressar nas universidades públicas,
e universidades particulares eram caríssimas, lembro que no meu contexto era
quase impossível.
Tive a oportunidade de estudar numa excelente escola pública, como
falei, os tempos eram outros. Os professores se dedicavam a ensinar, consegui
me destacar, e em 1979 fui incentivado por um professor a fazer concurso público.
Adolescente, cheio de sonhos, buscando o sustento para continuar perseguindo
meus sonhos.
As crianças sonham, e precisamos aprender a continuar sonhando. Olhando
para trás, me emociono pelas conquistas e pela oportunidade de continuar
sonhando. Em 1981, ainda adolescente, já tinha um emprego, estabilidade financeira,
desafios, constitui família, tive filhas, e sempre continuei sonhando.
Hoje tenho a oportunidade de me
divertir com meus netos, claro que fazendo coisas de criança e sonhando muito. Trago
boas memórias da minha infância, e lembro com muito carinho do colo da minha
avó, andar de bicicleta com meu avô, minhas tias fazendo as coisas que eu
gostava de comer (só com a lembrança minha boca ficou cheia de saliva). Aos
cinco anos minha mãe me presenteou com uma Bíblia, a leitura é minha companhia desde
a infância, chegando na adolescência já havia lido toda a Palavra de Deus, e
nunca mais parei de ler a Bíblia.
Uma das coisas que mais me incomoda no contexto da igreja é a
minimização da experiência espiritual na vida das crianças. Parece que a
liderança eclesiástica não conhece as instruções bíblicas[1][2]
ou as histórias de Samuel, Davi, Timóteo, João Batista, Jesus Cristo.
Ler o livro de 1 e 2 Samuel é um convite a olharmos em como Deus age na
vida das crianças. Samuel vive num ambiente religioso, está sendo criado e preparado
para ser um profeta, Ele exercia funções religiosas diante de Israel. “Samuel,
contudo, ainda menino, ministrava perante o Senhor, vestindo uma túnica de
linho”. (1 Samuel 2:18 NVI)
O chamado de Samuel é tremendo, e a resposta ensinada por Eli deveria
ser a nossa oração diária: FALA SENHOR QUE TEU SERVO OUVE! O começo de serviço
do último e grande juiz de Israel foi no início da adolescência[3].
Então, como você está olhando para as crianças na comunidade religiosa
que você faz parte?
Davi vive no campo, é o mais novo dos seus irmãos, é pastor de ovelhas,
desde adolescência enfrenta os perigos, ladrões, salteadores e feras. A
experiência de Davi com Deus era pessoal, falava com o Senhor no dia a dia,
sabia quem era e qual era a vontade de Yahweh. Davi desde a infância aprendeu
a confiar no Senhor.
Então, o que estamos ensinando as crianças?
O grande profeta e juiz de Israel foi forjado quando criança.
O grande rei de Israel, guerreiro, valente, destemido, vitorioso,
musico, poeta, íntimo do Senhor.
Tanto Samuel, quanto Davi, tinham uma característica em comum, eram
vitoriosos e sabiam de quem vinha a vitória.
Samuel: “Então Samuel pegou uma
pedra e a ergueu entre Mispá e Sem; e deu-lhe o nome de Ebenézer, dizendo:
"Até aqui o Senhor nos ajudou". (1 Samuel 7:12 NVI)
Davi, entretanto, disse a Saul:
"Teu servo toma conta das ovelhas de seu pai. Quando aparece um leão ou um
urso e leva uma ovelha do rebanho, eu vou atrás dele, atinjo-o com golpes e livro
a ovelha de sua boca. Quando se vira contra mim, eu o pego pela juba, atinjo-o
com golpes até matá-lo. Teu servo é capaz de matar tanto um leão quanto um
urso; esse filisteu incircunciso será como um deles, pois desafiou os exércitos
do Deus vivo. O Senhor que me livrou das garras do leão e das garras do urso me
livrará das mãos desse filisteu". (1 Samuel 17:34-37 NVI)
Citei somente dois personagens bíblicos do antigo testamento, mais poderíamos
falar de muitos outros, pois a intimidade com Deus era vivida no ambiente
familiar.
Não poderíamos deixar de falar do menino
Jesus que aos doze anos está no Templo aprendendo e ensinando com os doutores
da lei.
“Depois de três dias o encontraram no templo, sentado entre
os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam ficavam
maravilhados com o seu entendimento e com as suas respostas.... Então foi com
eles para Nazaré, e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, guardava todas essas
coisas em seu coração. Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante
de Deus e dos homens. (Lucas 2:46-52 NVI)
Jesus nos ensina que,
mesmo criança, era obediente a sua mãe e seu pai, e estava em constante crescimento.
Então, as crianças que você conhece estão crescendo em sabedoria, estatura e
graça diante de Deus e dos homens?
As experiências de
criança nos deixam marcas para toda a vida, vamos investir para que sejam
marcas boas, positivas, duradouras e que tragam na velhice lembranças
maravilhosas.
Não se esqueça, Deus
chama as crianças para o seu serviço!
Abraço,
Cláudio Eduardo -
pastor
[1] Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu
coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras
que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus
filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver
andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. (Deuteronômio 6:4-7
NVI)
[2] Até a criança mostra o que é por suas ações; o seu
procedimento revelará se ela é pura e justa. (Provérbios
20:11 NVI)
[3] O Senhor voltou a chamá-lo como nas outras vezes: "Samuel, Samuel!
" Então Samuel disse: "Fala, pois o teu servo está ouvindo". (1 Samuel 3:10 NVI)
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