LEMBRANÇAS DE CRIANÇAS! (parte 2)
CHILDHOOD MEMORIES!
“Então disse Jesus:
"Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas"
(Mateus 19.14 NVI)
Somos
marcados por nossas lembranças, e precisamos ter o máximo de cuidado sobre que
tipo de lembranças estamos construindo nas crianças a nossa volta!
O
ambiente familiar e extremamente marcante, inclusive as experiências
intrauterinas, normalmente estamos cercados de afetos e cuidados, a chegada de
uma criança é cheia expectativas, uma festa onde a criança vem ao mundo sendo
muito amada. Essa seria a condição ideal, mas infelizmente nem sempre é assim!
Conhecemos
histórias de crianças rejeitadas, de famílias toxicas, de faltando o mínimo de
dignidade, vivendo em situação de desnutrição, exploração e violência. Crianças
que não possuem sonhos, que não sabem e nem tem expectativas sobre o amanhã.
Crianças que estão vivendo em situação de rua, outras sofrendo os horrores da violência
urbana. O que se dizer das crianças que estão em zona de guerra, onde suas
mortes são esquecidas tão rápido.
Olhando
para algumas das necessidades básicas, saúde, educação e segurança; como podem no
futuro algumas crianças competirem num mundo cruel, onde alguns tem acesso a
educação de qualidade e outros não, onde para alguns há uma atenção
extraordinária a saúde e outros estão morrendo ou ficando com sequelas sem o
atendimento necessário. Segurança, estamos todos inseguros, a violência urbana
é cruel, mas alguns estão protegidos em condomínios, possuem casas aconchegantes,
enquanto outros ficam parte do ano sem irem a escola de a operações policiais e
existem aqueles que dentro de suas residências foram atingidos por projeteis cruéis
que depois de lançados saem em busca das suas vítimas.
Ao
invés de assumirmos a nossa parcela de responsabilidade, vivemos procurando
culpados. O Estado, a sociedade, o contexto político, as ideologias, e para aqueles
que querem espiritualizar tudo é o inimigo.
Então,
fica a pergunta:
-
Onde está a IGREJA?
Não
estou falando de organização religiosa, pergunto sobre o corpo de Cristo,
aqueles que um dia tiveram suas vidas transformadas pela preciosa mensagem do
evangelho de Jesus Cristo.
Quando
criança morava numa região pobre da cidade, minha vida era boa, tinha tudo que
era necessário para uma criança daquela época. Era início da década de 70, tinha
sete anos, o mundo estava passando por uma grande revolução cultural e política,
a busca pela chamada liberdade era intensa, todos queriam se sentir livre. Meu
contato com a Bíblia era diário, estava numa busca incessante por liberdade.
Sempre
dava atenção as “coisas de Deus”, alguns adultos até diziam que eu dia seria
pastor. Era uma época de evangelização na rua, e dominicalmente tinha um “ar
livre”[1] próximo a minha casa, não
sei qual era a igreja, mas uma coisa ficou marcada na minha vida, as mensagens
agressivas sobre a ida dos ímpios para o inferno e a forma com encerravam a
atividade. Depois da mensagem o dirigente de maneira autoritária afirmava que
as mãos deles estavam limpas do nosso sangue e que o problema era nosso, e
cantavam um hino que começava em seu primeiro verso assim:
A nova do evangelho
Já se fez ouvir aqui
Boas-novas tão alegres
Elas são pra quem ouvir
Assim Deus nos amou
Sim, a cada pecador
Quem nos deu seu Filho amado
Pra sofrer a nossa dor
Depois
que me converti comecei a intender melhor a letra da música, mas a lembrança e
o sentimento eram de revolta.
-
Como podem dizer que estão ali cumprindo uma obrigação e não fazerem nenhuma ação
concreta de manifestação de amor?
-
Qual as alternativas estavam dando as crianças?
-
Quando uma família perdia seus filhos para a violência onde estava a Igreja?
Tive
muita dificuldade em me render a Cristo, passei a ser um critico ferrenho do
evangelho hipócrita, sem atitudes, de um amor teórico sem nenhuma manifestação
prática. Fui alcançado e transformado por Jesus Cristo, mas até hoje quando
volto no tempo, me pergunto:
-
Se fosse Jesus numa favela carioca cercada por pobreza e violência como ele
apresentaria a sua mensagem?
Hoje
sou pastor, vejo o mundo com a experiencia da idade, e continuo incomodado com
igrejas cheias aos domingos falando de amor e no restante da semana sendo
indiferentes a necessidade do próximo.
Jesus,
o Cristo, pregava com autoridade, falava a multidões e acolhia individualmente
os marginalizados, ele cuidava de pessoas. Jesus entrava na casa de pessoas socialmente
mal vistas, protegia prostituta, quebrava protocolos para acolher os
necessitados. O palco de Cristo foi a cruz e seus seguidores foram chamados a
serem protagonistas no cumprimento da missão.
Santa paz e perdão
São as novas lá nos céus
Santa paz e perdão
É bendito o nosso Deus
Vários
episódios religiosos vêm a minha lembrança, no entanto, esse me marcou pela
hipocrisia e a falta de empatia, como cantar santa paz num lugar que os
tiroteios eram constante. Hoje entendo, sei o que significa essa paz, mas no
meu entendimento de criança era algo inacessível.
Abraço,
Cláudio
Eduardo – pastor
No
dia 12 de outubro, dia das crianças no Brasil, lembre que o melhor presente
para muitas crianças é um abraço, é ser ouvida, é ser tratada com amor e
dignidade!