Este trabalho é fruto de pesquisa e vivencia na perspectiva da compaixão e misericórdia, espero que sua vida seja enriquecida.
Solicito na utilização deste trabalho para qualquer fim o devido crédito ao autor ou as referências bibliográficas citadas.
Solicito na utilização deste trabalho para qualquer fim o devido crédito ao autor ou as referências bibliográficas citadas.
FICHA CATALOGRÁFICA
Costa, Cláudio Eduardo de Macedo
A Igreja e o Ministério de Compaixão
Rio de Janeiro, 2016.
v, 56 f.
Monografia
1. Compaixão. 2.
Dimensão bíblica da práxis social.
3. Importância da
Ação Social no contexto das igrejas
históricas. 4. Uma
igreja vivendo a ação social.
I. Monografia II. Pontifica
Universidade Católica – Rio de Janeiro.
Ficha Catalográfica
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iv
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Sumário
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v
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Resumo
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vi
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INTRODUÇÃO
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7
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1
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A DIMENSÃO BÍBLICA DA PRAXIS SOCIAL
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12
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1.1. No Antigo Testamento
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12
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1.2. No Ministério de Jesus
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19
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1.3. Na experiência da Igreja Primitiva
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25
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2
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A IMPORTÂNCIA DA PRÁXIS SOCIAL NO CONTEXTO DAS
IGREJAS HISTÓRICAS NO SÉCULO XX
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32
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2.1. Abordagem do Contexto histórico
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32
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2.2. Descasos observados
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35
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2.3. A práxis da compaixão na realidade das
igrejas evangélicas históricas
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38
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3
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A VOCAÇÃO DA IGREJA AO AMOR E À MISERICÓRDIA
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41
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3.1. A Igreja chamada a se identificar com Cristo
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42
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3.2. Um convite a participação e ao comprometimento
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47
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CONCLUSÃO
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52
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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54
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RESUMO
Diante das grandes injustiças sociais que
afligem milhões de pessoas diariamente, este trabalho parte do pressuposto da
compreensão do que a revelação de Deus através das Escrituras ensinam a
respeito da igualdade, misericórdia e compaixão. É observado nos primeiros
cristãos a prática dos ensinos de Jesus, como também a vivencia apostólica
convidando a seguir a Jesus com autenticidade, responsabilidade e
comprometimento. Infelizmente diversos fatores levaram algumas igrejas
históricas a negligenciarem seu compromisso em minimizar o sofrimento alheio,
no entanto homens e mulheres conscientes de sua missão se levantam na luta pela
misericórdia e compaixão. A Igreja é
chamada a uma vida de amor e misericórdia, pois faz parte da sua essência. Cada
cristão é convidado a se identificar com Cristo, sendo o Batismo e a Ceia as
ordenanças que demonstram essa identificação, mortos para o mundo, vivendo para
Deus como participantes do Corpo e do Sangue do Senhor. A Igreja, como
comunidade local, é convocada a participar e conhecer as pessoas que estão a
sua volta, vivenciando suas lutas e sendo um canal para a juntos sonharem com a
construção de um mundo melhor.
Palavras-chave:
Monografia; Igreja; Compaixão; Misericórdia; Ação Social; Cristo; Discípulos;
Vocação; Comprometimento.
INTRODUÇÃO
Diante dos grandes problemas sociais que assolam o
mundo, onde milhões de pessoas estão vivendo na pobreza absoluta e sem nenhuma
expectativa de dias melhores. Os grandes centros urbanos possuem milhares de
pessoas invisíveis, indigentes, marginalizados, moradores das ruas, muitos
escravizados pelas drogas e fazendo pequenos furtos, crianças e adolescentes
que para saciar sua fome vão à busca de alimentos nos lixos, pessoas invisíveis
e ignoradas por uma sociedade que foi estimulada ao individualismo e ao
egoísmo, e que só enxerga o problema quando lhe atinge, e enxerga o problema,
mas não as pessoas envolvidas nele[1].
A igreja não pode ficar omissa diante das
desigualdades sociais, do desemprego, do caos causando pelas drogas, da má
qualidade da educação, da exploração de crianças e adolescentes e da violência
em todos os seus aspectos[2]. O
ser humano precisa ser visto como um todo, é tarefa da igreja lutar pela
dignidade, o amor e a igualdade. É impossível separar a pessoa dos problemas
que a afligem, tratando apenas do aspecto espiritual. Ela precisa ser vista na
sua totalidade, como Cristo a viu[3].
Este trabalho tem por objetivo mostrar que as
injustiças são abominação para Deus, e que todo aquele que professa a fé em
Deus através de Jesus Cristo deve lutar contra todos os tipos de injustiças,
inclusive as sociais. O modelo que o Cristão deve perseguir é Jesus Cristo,
sendo agentes de mudanças. “Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” [4].
A partir da situação desprezível que muitos homens, mulheres, crianças e
adolescentes se encontram, fazemos as seguintes perguntas: O que a igreja, como
Corpo de Cristo, tem feito para minimizar o sofrimento daqueles que padecem
socialmente? Ou qual é o papel da igreja com relação à práxis social e como tem
demonstrado compaixão[5]?
São duas perguntas importantes, as quais serão abordadas no desenvolver deste
trabalho, pois a partir da dimensão bíblica da ação social, será visto o que é
o ser humano no plano de Deus, e qual o tipo de relacionamento que Deus espera
que eles tenham entre si, será verificando também qual foi o comportamento e os
ensinamentos de Jesus com relação aos problemas sociais existentes em sua época
e como se comportaram seus seguidores no princípio da igreja. Pois a falta de
uma compreensão teológica tem levado muitos grupos a se eximirem de tal
responsabilidade, dividindo o homem em corpo e alma e procurando apenas o
bem-estar da alma, esquecendo-se de suas responsabilidades sociais, conforme
afirma Stott:
Não ficaremos apenas a conversa, planejando e
orando, como aquele religioso a quem uma mulher desabrigada procurou em busca
de auxílio e não sabendo ajudá-la, prometeu orar por ela. Posteriormente a
mulher escreveu este poema e entregou-a a um dos diretores regionais da Missão
Abrigo: Eu tive fome, e tu formaste um
grupo humanístico para discutir minha fome. Eu tive preso, e tu te retiraste
discretamente para tua capela e oraste pela minha libertação. Estava nua e, na
tua consciência, questionastes a moralidade de minha aparência. Estive enferma
e tu te ajoelhaste e agradeceste a Deus por tua saúde. Estava desabrigada e tu
me falaste do abrigo espiritual do amor de Deus. Estava solitária e tu me
deixaste sozinha a fim de orar por mim. Parecia tão santo, tão próximo de Deus!
Mas eu ainda estou com fome, e sozinha, e com frio [6].
A partir de uma reflexão teológica sobre o assunto
será visto através da Bíblia a preocupação de Deus com o homem, vendo-o como um
ser integral, conforme afirma a declaração de Lausanne:
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens.
Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em
toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de
raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada...
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação
social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a
evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever
cristão... A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na
totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é
morta[7].
Durante o decorrer da história, a prática do
cuidado para com o próximo foi esquecida ou colocada em segundo plano, porém
Deus tem sempre levantado homens para reavivarem a prática do amor, da
misericórdia e da compaixão, será analisada a importância da ação social[8] no
contexto evangélico histórico, com seu antecedente, os descasos e o retorno à
práxis social como ministério de compaixão da igreja.
No século passado a terra modificou-se
substancialmente nos aspectos sociais, sendo o progresso tecnológico o grande
responsável, invenções tais como o avião, telefone, radioatividade, rádio,
televisão, e neste século o avanço da internet e das mídias sociais encurtaram
as distâncias, havendo uma grande integração entre as culturas. Além disso, o
mundo foi abalado com duas grandes guerras e de vários conflitos bélicos
regionais, fazendo com que os cristãos reavaliassem seus conceitos,
principalmente na questão de quem é meu próximo? E qual a interferência de Deus
no mundo?
Uma hermenêutica incorreta também contribui
grandemente para que a ação social fosse esquecida pelos evangélicos
históricos, principalmente nas questões escatológicas. Houve uma
supervalorização da evangelização, afirmando que o fim está próximo e a
salvação da alma a única coisa que tinha importância. Ao mesmo tempo em que
separaram o corpo da alma, criaram uma distinção muito grande entre o sagrado e
o profano, ou secular.
Delimitando o aspecto prático da igreja com relação
à práxis social, será abordada mais detalhadamente, onde na vocação da igreja
ao amor e a misericórdia, a partir da identificação com Cristo através da
celebração do batismo e da Ceia são demonstrações claras de transformação e
comprometimento.
É emergente que a igreja hoje tenha um programa
consciente e bíblico para práxis social. Não se pode mais ficar
preocupados somente com os problemas, é necessária uma ação mais profunda
buscando as causas dos problemas, tentando modificá-las, para assim, se ter soluções
duradouras. A igreja hoje, mais do que nunca, precisa estar engajada nos
problemas de sua comunidade, pois o corpo de Cristo perde completamente sua
função se não demonstrar com prática que ama ao próximo.
Na busca de soluções para tão grande desafio o
primeiro capitulo abordará a dimensão bíblica da práxis social, observando a
visão divina de justiça, da igualdade e a necessidade de compaixão, começando
no Antigo Testamento, fazendo uma caminhada desde a criação, passando pela
instituição da Lei[9],
vendo a atuação dos profetas na luta por justiça social, no ministério de Jesus
é contemplado o cuidado integral do ser humano, os primeiros cristãos são
conhecido como comunidade de amor e justiça e a importância que os escritores
do Novo Testamento dão ao amor e ao cuidado com o próximo. Este trabalho parte do pressuposto de que a
Bíblia é a revelação especial de Deus, que a partir do seu agir sobrenatural
escolhe homens que são inspirados pelo Espírito Santo para registrar o seu
poder, caráter e propósito para a humanidade.
No segundo capítulo será feita uma abordagem
histórica sobre a importância da ação social no contexto evangélico e como isso
vem se desenvolvendo no decorrer da história das igrejas históricas, razões
para os descasos que não se justificam. Se a Igreja é Corpo de Cristo, a
presença mística do Cristo em um mundo com tantas desgraças e necessidades,
nada justifica a omissão.
O terceiro capítulo apresenta uma Igreja diante de
sua vocação, sem distorcer princípios, ou usando suas ações como meio de
chantagem para o crescimento de sua congregação, enfatizando que além da
responsabilidade com a Igreja, o cristão tem um convite ao comprometimento com
sua comunidade a partir dos princípios e valores de Cristo.
1
A DIMENSÃO BÍBLICA DA PRÁXIS
SOCIAL
Neste capítulo será abordada a dimensão bíblica da
práxis social, como este problema é tratado e quais as soluções encontradas
para minimizá-lo. Será visto ainda a pessoa do ser humano no plano divino,
tendo como pressuposto os relatos do Antigo e do Novo Testamento, considerando
o contexto histórico da revelação progressiva de Deus que atinge o seu clímax
na pessoa de Jesus Cristo.
Uma leitura atenciosa do texto bíblico mostra que
desde o principio a humanidade convive com as injustiças e violências, onde
homens e mulheres explorando e sendo explorados. Os autores, usados por Deus
para registrem suas experiências com o Senhor, são verdadeiros arautos
denunciando o pecado e fazendo um convite a restauração da harmonia do ser
humano consigo mesmo, com a criação e com seu Criador[10].
A partir do texto bíblico, é visto a repulsa de
Deus a uma religiosidade vazia, sem uma vivencia em que a celebração seja um
reflexo da vida daquele que celebra. Desde o princípio a igualdade, o respeito,
o amor e o cuidado com o mais fraco deve fazer parte do culto prestado a Deus.
1.1.
NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento se têm as narrativas da
criação[11] e
queda do ser humano, como também os primeiros contatos de Deus com o homem
caído e a promessa de um Salvador que haveria de mudar as estruturas
espirituais e sociais da humanidade.
Através da narrativa bíblica da criação é
constatado que as injustiças não faziam parte do propósito divino. Homem e
mulher são criados bons e tendo a capacidade de domínio sobre todo o restante
da criação. Antes do ato de rebeldia para com o Criador é apresentado a criação
da família, seus princípios e valores, o trabalho como satisfação por
proporcionar sustento e provisões e, além disto, um contato de intimidade com
seu Criador[12].
Tudo em perfeita harmonia, tudo muito bom. O ser humano tem o domínio sobre a
criação e também um lugar de honra em relação a toda a criação divina[13].
Sendo um ser moral, homem e mulher tem a liberdade
de opção entre o mal e o bem, entre continuar servindo ou abandonar o seu
Criador, e para infelicidade da raça humana a escolha foi errada, eles
escolheram desobedecer, e a este erro a Bíblia chama de pecado. Errando tiveram
que assumir as consequências, ou seja, a penalidade determinada por Deus que é
a morte, que segundo Langston:
Possui duas significações: morte física e morte
espiritual. Sendo que a primeira é simplesmente a separação do homem de seu
corpo, com um sentido punitivo, perda da vida física. Já a morte espiritual é a
separação entre o homem e Deus, sendo resultado da morte espiritual a perda da
semelhança moral que o homem tinha com Deus e a corrupção dos poderes do homem[14].
Os problemas sociais estão baseados nas relações que as
pessoas têm entre si; e após o
pecado, o egoísmo, a maldade e a ambição são exemplos de sentimentos que
passaram a fazer parte do relacionamento humano. A corrupção humana chegou a um
ponto tal que a narrativa bíblica afirma que num ato do juízo divino, o dilúvio
é a historia do recomeço, uma família recebe a incumbência de recomeçar a
história da humanidade[15]. Os problemas sociais estão intimamente
relacionados com o pecado que domina o individuo e vai de contra os princípios
e os propósitos de Deus[16].
Ainda no Antigo Testamento temos o relato dos
contatos entre Deus e a humanidade, contatos estes que demonstravam quem Ele é,
e qual a sua vontade.
Em um destes contatos é feito o convite a Abraão
para uma missão especial, a missão de abençoar[17]. Abraão e sua descendência seriam responsáveis em
transmitir a vontade divina para a raça humana. A bondade é para todas as pessoas. Deus tem
seus instrumentos, mas todos são beneficiários. Abraão e sua família haveriam
de ser um instrumento especial nas mãos de Deus, e o mundo inteiro seria o
beneficiário. Seu nome seria engrandecido, mas grandes seriam também as bênçãos
que fluiriam por meio dele a todas as nações[18].
O registro de uma grande fome que veio sobre a
terra, Jacó, neto de Abraão, e seus filhos foram para o Egito, onde havia
fartura e ali multiplicaram seus descendentes. Em determinado momento da
história os descendentes de Abraão passaram a viver sob um regime de exploração
e servidão, “Por isso, os egípcios escravizavam os israelitas com mais rigor; e
assim lhes amarguravam a vida com serviços pesados com barro e com tijolos, e
com todo tipo de trabalho no campo; enfim, com todo serviço que eram forçados a
fazer”[19].
Esta situação se tornou insustentável e sempre que
um ser humano está sendo explorado isso desagrada a Deus. Diante de tais
circunstâncias é necessário o livramento daquele povo, escolhido para ser o
portador de sua graça a todas as demais nações.
Para liderar os descendentes de Abraão no processo
de libertação, Deus convoca a um hebreu que foi criado no palácio de Faraó, mas
que não se conformava com o sofrimento e a humilhação de seu povo, Moisés
recebe a incumbência de dialogar com a liderança egípcia para que o processo
ocorresse de maneira pacifica.
No processo de libertação dos hebreus notamos o
verdadeiro significado da práxis social; era preciso acabar com a origem do
sofrimento e não somente minimizá-los. E esta origem chamava-se servidão e a
solução era a liberdade. “Então o Senhor disse: Tenho visto a opressão sobre o
meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus
opressores; conheço os seus sofrimentos. Eu desci para livrá-lo dos egípcios e
levá-lo daquela terra para uma terra boa e espaçosa, uma terra que dá leite e
mel”[20].
Preparando o povo para a saída do Egito, o povo é
conscientizado da necessidade de lutarem pela liberdade, a confiarem que em
todos os momentos Deus estava ao seu lado. São libertos do jugo egípcio
definitivamente ao passarem pelo Mar Vermelho, que milagrosamente se abriu para
que eles pudessem atravessá-lo sem sequer se molharem, demonstrando o milagre
do livramento divino. Deus estava pelejando por eles e através deles.
Para que o povo de Israel não cometesse os mesmos erros de seus
opressores, é dado a eles um código de leis que vai regulamentar o
relacionamento do indivíduo para com Deus, e entre si. Por se enfatizar neste
trabalho as questões social, nos deteremos apenas no relacionamento entre os
indivíduos. Sabendo que a fiel observância do relacionamento do indivíduo para
com Deus certamente garantirá fidelidade no relacionamento dos indivíduos entre
si[21].
A Lei ensina como deve ser o relacionamento de homens e mulheres com
Deus e entre si. “Quando algum de teus irmãos for pobre, em qualquer das
cidades na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o coração, nem
fecharás a mão para teu irmão pobre; pelo contrário, abrirás a mão para ele e
certamente lhe emprestarás o que ele precisa, o suficiente para a sua
necessidade. Pois nunca deixará de
haver pobres na terra. Por isso, te ordeno: Livremente abrirás a mão para o teu
irmão, para o necessitado e para o pobre na tua terra”[22].
Segundo Grayzel, em seu livro
História Geral dos Judeus:
Os dez mandamentos podem ser resumidos sob os
seguintes princípios gerais: Deus, o redentor, não pode ser confundido com as
forças da natureza, ou ser representado em qualquer forma física; o homem não
se deve preocupar tanto com suas necessidades materiais, a ponto de
se esquecer do papel que lhe foi designado na história da criação, do qual o
Sbath é o exemplo mais notável; o homem deve ter em mente suas obrigações
sociais, o respeito pelos pais e as relações morais com o próximo[23].
A Lei tinha a previsão do ano do Jubileu, a cada
cinquenta anos, que estava baseado na doutrina de que todas as
coisas e todas as criaturas no mundo não pertenciam ao homem, em absoluto, mas
a Deus, pois Ele as havia criado. A terra não deveria ser cultivada durante um
ano e deveria voltar ao seu antigo proprietário, e os escravos hebreus deveriam
ser liberados. Quanto ao cumprimento deste preceito da Lei, Champlin afirma:
“Há muitos eruditos modernos que pensam que essa legislação foi observada
raramente e que ela existia mais como um ideal do que como uma realidade”[24].
Uma vez que todo universo pertence a Deus, as
riquezas e propriedades deveriam ser distribuídas igualmente entre os homens[25]. A terra
deve ser arrendada, por assim dizer, a todos os que a desejassem cultivá-la,
para evitar a formação de grandes propriedades, decorrente de
práticas de açambarcamento da terra pelos que eram poderosos e que não se
submetiam às leis e a inevitável desapropriação dos pequenos agricultores que
se não pagassem a seus credores, na lei bíblica, a palavra do Senhor afirma que
o único proprietário de todas as coisas é Deus[26]. Em consequência, no ano do Jubileu a terra que o lavrador houvesse
trabalhado deveria ser devolvida aos antigos detentores da posse[27].
O período após a conquista da terra prometida e a
morte de Josué é de grande instabilidade, altos e baixos na vida espiritual e
social é a rotina do povo[28]. É necessário ao povo se adaptar do modelo de
sociedade nômade para a urbana, agora moram em cidades e as relações pessoais e
o padrão de justiça precisam ser solidificados, as guerras são constantes e
Deus está sempre levantando lideres para os momentos de crises e de grandes
dificuldades.
Dentre os juízes se destaca a presença de Débora,
em meio uma sociedade patriarcal, onde as mulheres são tratadas como inferiores
o registro bíblico é de uma mulher que exercia liderança espiritual, política e
bélica. Em Débora observamos que Deus não faz acepção de pessoas, para Deus
homens e mulheres são dignos de igualdade e respeito, ela era casada, e servia
ao povo como profetiza[29].
Os juízes demonstravam preocupação na observância
da lei divina. No entanto o povo não estando satisfeito com o sistema de
governo pede um rei, e neste período a responsabilidade social toma uma forma
diferente, principalmente com o povo se tornando sedentário.
A responsabilidade principal do rei era manter a
justiça e proclamar a Lei. “Davi reinou sobre todo o Israel.
Ele administrava a justiça e a equidade a todo o seu povo”[30]. O Israel unificado teve três reis, Saul, Davi e
Salomão, sendo que somente no período de Salomão houve fartura e paz.
A caminhada iniciada por Abraão, concretizada por
Moisés, conquistada por Josué e solidificada por Davi chegara ao seu auge
máximo. A benção de Deus sobre Israel era notória para todo mundo. - “O povo de Judá e de
Israel era tão numeroso como a areia da praia; eles comiam, bebiam e se
alegravam.” 1 Reis 4.20[31].
Na história de Israel, Deus levanta profetas[32]
para anunciarem sua indignação e a previsão de seu juízo.
Os
profetas, portadores da mensagem divina para o povo, eram homens do povo e
apesar de às vezes falarem de um futuro distante, este futuro estava
relacionado com o presente. Os profetas pregavam justiça, reforma social e
responsabilidade para com os nossos semelhantes[33].
O Profeta Isaías, que viveu no período dos reinados
de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, entre os anos 742 e 687 A.C., e
conforme a afirmação de Champlin: “Isaías, em seu ministério, enfatiza os fatores
espirituais e sociais. Ele feriu as dificuldades da não obediência em suas
raízes, sua apostasia e idolatria, e procurou salvar Judá da corrupção moral,
política e social”[34].
No primeiro capítulo do Livro do profeta Isaías é
feita uma séria advertência aos líderes que são chamados de “governadores de
Sodoma” e aos indivíduos que agem injustamente e são chamados de povo de
Gomorra. O profeta demonstra a recusa de Deus devido à maneira como o culto é
prestado, o culto não é rejeitado em si mesmo, mas pela imoralidade dos que o
praticam. Ele afirma que Israel traiu a Deus quando traiu aos pobres. E essa
traição é levada a efeito pelas autoridades, que se encontram diante de dois
grupos sociais: os ricos, que se enriquecem ilicitamente, e os pobres cada vez
mais na miséria, sofrendo do descaso, do abandono, da marginalização e das
injustiças. O profeta Isaías exorta os líderes e o povo ao arrependimento: Buscai
a justiça, acabai com a opressão, fazei justiças aos órfãos, defendei a causa
da viúva[35].
Conhecido
como o profeta messiânico, pela maneira magistral como o Cristo é apresentado,
Isaías, enfatizando seu nascimento, ministério e morte. O próprio Jesus inicia
seu ministério utilizando o livro do profeta Isaías para referir a sua missão, citando o que havia
sido predito a respeito de sua pessoa, ministério e serviço, que era cuidar dos
pobres, oprimidos e doentes, trazendo uma mensagem de esperança[36].
Isaías, Jeremias, Zacarias e
Miqueias acusaram o povo de participar da adoração, obedecer às regulamentações
religiosas, orgulhar-se de seu conhecimento bíblico e mesmo assim aproveitar-se
do fraco e vulnerável. Os profetas concluíram que, desse modo, a atividade
religiosa do povo não apenas era insuficiente, mas profundamente ofensiva a
Deus[37].
O profeta Jeremias, ainda jovem, recebe a responsabilidade de alertar
Judá quanto à opressão para com os menos favorecidos, e a conclamar mudanças
estruturais para um retorno à soberania de Deus. Ele vive em um período muito
conturbado da história de Judá que culminou com o cativeiro babilônico. Suas
palavras são muito duras para os governantes devido à ganancia e a falta de
cuidado com o próximo[38]. A
exploração dos pobres é condenada pelos profetas Ezequiel, Zacarias e Malaquias[39].
Dentre os profetas
menores vale a pena o destaque do ministério de Amós, ele era de Tecoa uma vila
que ficava a dez quilômetros de Belém, seu ministério é no período dos reis
Uzias em Judá e Jeroboão II em Israel. Amós tem um elevado conceito de Deus. Para Amós as formalidades do culto não substituem a
piedade, a misericórdia e a justiça[40].
No Antigo Testamento Deus fala de várias maneiras ao seu povo,
enfatizando as questões sociais, tendo por base a igualdade entre os homens e a
visão de que um dos seus atributos é a justiça, justiça esta que convida a
todas as pessoas agirem justamente. O Antigo Testamento é Palavra de Deus e
deve ser interpretado de acordo com as regras da hermenêutica, consciente de
que não há livro mais ou menos importante[41].
1.2.
NO MINISTÉRIO DE JESUS
Na história do povo judeu havia uma grande expectativa
para vinda do Salvador, do Messias, e a visão geral era que o Messias seria um
rei guerreiro e que haveria de libertar politicamente a nação judaica, porém
aqueles que assim esperavam erraram. Jesus[42],
o Salvador, o Messias, aquele que haveria de mudar a história da humanidade, já
nasceu quebrando enormes barreiras. Por falta de acomodação adequada nasceu
Jesus em uma estrebaria, os primeiros a receberem o anúncio do nascimento do
Salvador foram pastores, classe discriminada pela elite judaica por não poderem
cumprir rigorosamente a Lei, pois devido às necessidades de suas funções
era-lhes impossível guardar o sábado.
Jesus é uma criança, cresce aprendendo o ofício de
carpinteiro e com doze anos já discute com os doutores do templo, porém seu
ministério começará bem mais tarde. Por volta dos trinta anos Jesus é
batizado por João Batista, marcando neste ponto o início de seu ministério,
acompanhado de doze discípulos pregou na Galileia, foi recebido pelo povo com
entusiasmo por suas curas, suas parábolas e seu carisma, sofrendo forte
oposição dos fariseus e das classes dominantes por seus ataques contra a
hipocrisia. O ministério de Jesus tem
por finalidade trazer aos homens liberdade, do pecado, de Satanás, da lei e da
morte[43].
Jesus ao definir seu ministério, segundo o
Evangelho de Lucas, citando o profeta Isaías, no qual interpreta sua missão em
termos proféticos.
Atribui-se assim o Senhor (a) um ministério de restauração material, pois se afirma
enviado a restaurar os contritos de coração. V. 1; (b) um ministério de
libertação social, desde que anuncia “liberdade aos cativos e abertura de
prisão aos presos”, v.1b; (c) um ministério de redenção espiritual, porquanto veio
“apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança de Deus”.v 2a; (d) um
ministério de consolação moral,
uma vez que se propõe a “consolar todos os tristes”, v 2b [44].
Jesus tem um ministério libertador. Ele põe em
liberdade os aprisionados. Cada cura, cada exorcismo executado por ele era um
exercício concreto de libertação. A mensagem e o testemunho dele eram
extremamente revolucionários para sua época, tanto que, no sermão da montanha
após declarar as bem-aventuranças e o que ele espera de cada um de seus
discípulos, Jesus explica a sua relação para com eles, na qualidade de Messias,
especialmente conforme ele era interpretado em seu tempo.
No restante do sermão da montanha, Jesus começa a
dar um novo significado para Lei[45],
ele começou dizendo-lhes que não imaginem, nem por um momento que ele veio para
“revogar[46]
a lei ou os profetas”[47],
isto é, todo o Antigo Testamento ou qualquer parte dele. O modo como Jesus
enunciou esta declaração negativa dá a entender que alguns já pensavam
exatamente nisso, que ele agora estava contradizendo.
Jesus falava com autoridade própria. Gostava de
usar fórmulas jamais usadas por qualquer profeta antigo ou pelos escribas da
sua época. Ele apresenta alguns de seus mais impressionantes pronunciamentos
com “em verdade vos digo”, falando em seu próprio nome e com sua própria
autoridade.
Jesus revolucionou alguns conceitos de seu tempo
como, por exemplo, o caso das mulheres, conforme nos relata Jeremias:
No oriente, a mulher não participa da vida pública;
o mesmo acontecia no judaísmo do tempo de Jesus. Quando a mulher saía de casa,
trazia o rosto escondido por um manto, peça de pano dividida em duas partes,
uma cobrindo-lhe a cabeça e a outra cingindo a fronte e canto até o
queixo, tipo de rede com cordões a fronte e caindo até o queixo, tipo de rede
com cordões e nós. Desta forma, não se podia reconhecer os traços de seu
rosto... A mulher que saía de casa sem ter a cabeça coberta faltava de tal modo
aos bons costumes que o marido tinha o direito, até mais, tinha o dever de
despedi-la sem ser obrigado a pagar a quantia que no caso de divórcio pertencia
à esposa, em virtude do contrato matrimonial. Em conformidade com tais regras,
as mulheres em público deviam passar despercebidas. Seria vergonhoso para um
aluno de escriba falar com uma mulher na rua[48].
O encontro de Jesus com a mulher samaritana,
narrado no Evangelho de João, mostra ele quebrando preconceitos, barreiras
sociais e culturais, demonstrando que sua preocupação era com o ser humano,
independente de raça, sexo ou religião.
Jesus durante o seu ministério utilizou muitas
vezes parábolas, para que ficasse bem compreendido seu ensinamento. Dentre
estas, se destaca a parábola do bom samaritano[49],
que apresenta um forte conteúdo de práxis de amor[50] e
misericórdia[51].
A parábola do bom samaritano foi contada a fim de ilustrar o
importantíssimo mandamento da Lei: “Amarás
o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”[52].
As seguintes observações podem ser feitas a
respeito: Jesus ensina um importante princípio de ética humanitária. O próximo pode ser uma
pessoa inteiramente desconhecida, pode ser de uma raça diferente, e até mesmo
desprezada, pode ser pessoa de outra religião, até mesmo conhecida como
herética. Contudo, os cuidados de Deus por toda a humanidade deve se manifestar
na vida de todas as pessoas[53]. É muito instrutivo que Jesus tenha escolhido
um samaritano para sua ilustração. Ele escolheu de propósito os desprezados
samaritanos para ilustrar o correto tratamento que se deve dar ao próximo. Nem
mesmo o altamente reverenciado levita demonstrou possuir o desenvolvimento
espiritual e a graça para acudir ao semelhante em sua em necessidade,
isso, juntamente com a mesma atitude exibida por um sacerdote, deve ter sido
especialmente contundente para os judeus que ouviram Jesus[54].
O samaritano, desprezado pelos judeus por causa de
sua raça, reputado por eles como um herético religioso, um gentio, foi
justamente aquele que se mostrou compassivo e que parou para socorrer a vítima[55].
O fato de um samaritano ter sido usado como exemplo de amor fraternal, seria
especialmente amargo para os judeus. A mera menção de tais indivíduos, sob uma
luz favorável, por parte de Jesus, era suficiente para pôr os ouvintes em
atitude de antagonismo, especialmente no caso dos mestres da lei que fizeram a
indagação que provocara a história da parte de Jesus.
Os adversários de Jesus teriam ficado perturbados
ainda mesmo que Jesus tivesse usado um leigo como contraste a um sacerdote, que
pusesse este em uma luz desfavorável, quanto mais quando este contraste foi
fornecido por um odiado samaritano. Acrescente-se a isso o fato que o homem
assaltado por ladrões poderia ser um judeu. E assim vemos que é um samaritano
que ajudou a um judeu.
A parábola do bom samaritano tem servido de
incentivo ao redor do mundo para o cuidado com os menos favorecidos, e, se for
compreendida e posta em prática, haverá de remover os preconceitos raciais e os
ódios nacionais. Esta história ilustra admiravelmente bem a qualidade dessa boa
vontade. O amor ao próximo não se mostra calculista e mesquinho, como se fosse
meramente o dever de alguém; mas também se mostra totalmente extravagante e
abundante. Aqui está uma nota constante dos ensinamentos éticos de Jesus.
Assim, também, uma vez mais, se encontra aqui o
grande sinal característico de Jesus, o fato de que o próximo era tão
completamente um estranho, por ser, acima de tudo, um samaritano; na grandeza
de sua compaixão, o samaritano não estava procurando cumprir um dever seu, não
tinha necessidade alguma de cumprir um dever, mas amou o seu próximo como a si
mesmo.
No sermão da montanha, as pessoas são instruídas a
amar aos seus inimigos, a andar com ele a segunda milha e a dar-lhe também a
sua túnica. Muitas das parábolas fazem soar esta nota, como quando o patrão
paga a seus trabalhadores o salário completo, embora alguns deles tivessem
labutado apenas por uma hora[56];
ou como quando pai recompensa com grandes presentes e uma grande festa,
a um filho totalmente indigno[57].
Os Evangelhos mostram a preocupação dos doutores da
Lei e os fariseus em estarem questionando e criticando constantemente a Jesus,
em uma dessas oportunidades perguntam: Qual é o maior, ou grande mandamento da
lei? Esse assunto criava muita
controvérsia no judaísmo.
Como não poderia deixar de ser, Jesus declara dois
mandamentos da lei que enfatizam o amor para com Deus e ao
próximo. O amor é a disposição básica de
todo o ser da pessoa em relacionar-se com Deus, para a sua glória, e com homens
e mulheres para o seu bem. Nada pode interpor entre o amor de Deus e o amor ao
próximo, o que, no sistema ético de Jesus, envolve a humanidade inteira. O amor
é a essência da lei moral. Com sua ênfase ao amor, conclui que o amor ao próximo
está inseparavelmente ligado à ação. Ações de cuidado, ou melhor, afirmando
ações que retratem a prática do amor[58].
Com referencia ao grande julgamento, a sentença
está intimamente relacionada com as ações dos discípulos diante do acolhimento
aos menos favorecidos em circunstancias de fome, sede, vestimenta e doença.
Mediante estas expressões, é encontrada a diversidade de males e sofrimentos
que sobrevêm à humanidade. As necessidades são corriqueiras, e segundo Barclay: O ensino é a seguinte: Deus nos julgará de acordo a
nossa resposta à necessidade humana. O julgamento de Deus não depende do
conhecimento que adquirimos, nem da fama que nos granjeamos, nem da fortuna que
reunimos, mas sim da ajuda que brindamos[59].
A cada uma dessas desgraças o verdadeiro discípulo
precisa reagir, os atos de amor aqui citados não são tais que requeiram meras
doações de dinheiro, mas que envolvem também o sacrifício de tempo, de forças,
e abdicação de descanso e de conforto. A base do juízo de Deus é a presença ou
ausência de obras de amor na vida dos homens.
A justificação é pela fé em Cristo Jesus, no
entanto, onde quer que os escritores do Novo Testamento se refiram à fé
verdadeira, a fé salvadora, esta vem acompanhada, inevitavelmente, por boas
obras. No relato do juízo final, Jesus indica que a nossa atitude real frente a
ele será revelada através da nossa atitude para com os necessitados. Durante o
seu ministério Jesus sempre teve uma preocupação com o ser humano de maneira
integral, “Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando nas
sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando todo tipo de doenças e
enfermidades”[60].
O anuncio do Reino de Deus é feito com ênfase no
chamado ao arrependimento e na aceitação das Boas Novas. Mas à proclamação
acrescentou o ensino, porque ele tinha interesse que seus seguidores deveriam
compreender as características do Reino de Deus, os requisitos para o ingresso
nele e as bases para seu crescimento.
Foi em completa coerência com o seu
prático ensino que Jesus se comprometeu com o serviço aos necessitados; curou
os enfermos, alimentou os famintos, consolou os tristes e deixou um grande
exemplo ao desempenhar o trabalho humilde realizado pelos escravos, quando
lavou os pés de seus discípulos. Seu enfoque foi integral porque considerou
que suas palavras e atos constituíam um só ministério.
As obras que Jesus fazia eram sinais do reino que
proclamava. Sem dúvida, as boas obras dele não devem ser entendidas somente
como evidência da presença do reino de Deus. Foram, além disso, e
principalmente, fruto de sua própria compaixão. Essa era a motivação suprema de
seus serviços, ele se comovia profundamente ao ver a necessidade humana e isso
o movia à ação. As expectativas dele em relação aos seus discípulos era que a
partir do seu exemplo eles também experimentassem a vivencia da doação do amor,
que a compaixão e o serviço passassem a ser parte integrante em suas vidas[61].
Por causa de sua mensagem revolucionária Jesus foi
condenado à morte pelas autoridades religiosas judaicas, com a homologação da
pena pelas autoridades romanas. Seu julgamento foi ilegal, pois o próprio juiz,
que era Pilatos, o considerou inocente[62]. Jesus também foi vítima de incompreensão e injustiças.
Ele não permaneceu morto, ao terceiro dia
ressuscitou e antes de sua ascensão deixou alguns ensinamentos importantíssimos
a seus discípulos, e podemos afirmar que a grande comissão[63] é
o resumo do que Jesus espera de seus seguidores, é amor em ação. Ele
voltou para o Pai, porém deixou a responsabilidade para a igreja de seguir seu
exemplo.
1.3.
NA EXPERIÊNCIA DA IGREJA PRIMITIVA
Após a ascensão de Jesus, seus seguidores ficaram
aguardando em Jerusalém algo especial. No dia de pentecostes, festa judaica que
ocorria no quinquagésimo dia após o segundo dia da páscoa, os discípulos de
Jesus são revestidos de poder, através da experiência do recebimento do
Espírito Santo. E para alguns intérpretes se considera o nascimento da Igreja
como algo que ocorreu neste dia, tendo em vista que é o Espírito Santo que une
os crentes formando com eles um só corpo.
O livro de Atos é o livro canônico que conta a
história do início da Igreja Cristã[64] e
foi escrito antes do século II d.C., é através dele que analisaremos a questão
social da comunidade cristã recém nascida
em Jerusalém, e que depois motivados por violenta perseguição são
obrigados a fugirem, mas onde quer que cheguem proclamam a Jesus, como Senhor.
Com relação aos primeiros cristãos de Jerusalém, o
autor do livro de Atos afirma que a compaixão era presente na vida deles: “Não
existia nenhum necessitado entre eles; porque todos os que possuíam terras ou
casas, vendendo-as, traziam o valor do que vendiam e o depositavam aos pés dos
apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade”[65].
Conforme o relato desse texto, a comunidade vivia muitas necessidades e um
modelo de comunhão e cuidado exemplar[66].
Alguns vendiam suas propriedades e o dinheiro era
entregue aos apóstolos para a administração e estes faziam a distribuição à
medida que houvesse necessidade. Alguns dos membros da primeira comunidade,
pois, renunciaram à propriedade privada em benefício dos irmãos carentes,
vivendo em completa partilha dos bens. Eles estavam colocando em prática o amor
que Jesus demonstrou para com eles, e eles deveriam demonstrar uns para com os
outros. Mesmo estando em uma sociedade injusta, com classes sociais distintas,
ou seja, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; com
escravidão e outras injustiças sociais, na Igreja essas diferenças eram
combatidas partir do principio de que todos eram iguais.
Até que ponto este quadro corresponde à realidade
histórica? Brakemeier afirma:
Há indício de que Lucas esteja projetando nos
inícios a imagem ideal da Igreja. Estaria generalizando o que talvez tenha sido
um ou outro caso isolado. E, finalmente, estranha a menção do exemplo de
Barnabé. Pois se era praxe geral dar os bens à comunidade, qual é a razão de
referência especial deste caso específico? Levantam a suspeita de a comunhão
dos bens não ter sido completa como Lucas assevera. Em razão disto, há
comentarista dizendo que nos defrontamos com uma imagem não histórica, mas
ideal da primeira comunidade[67].
Não podemos negar que o escritor de Atos, até certo
ponto, idealizou, pois a comunidade perfeita jamais existiu, mesmo sob a
direção dos apóstolos. A menção de Barnabé provavelmente não se deve a
excepcionalidade de seu exemplo, mas ao fato de ser pessoa conhecida em
Antioquia, cidade na qual se conservou esta tradição e onde se tinha interesse
biográfico em sua pessoa. Concluindo, Brakemeier afirma:
A primeira comunidade em Jerusalém de fato praticou
comunhão de bens. Certamente, ela não foi total. Mas que houvessem pessoas que
vendiam seus terrenos ou então colocavam sua casa e demais bens à disposição da
comunidade pode ser resultado histórico e seguro. A comunhão daqueles primeiros
cristãos se resumia numa comunhão de consumo. Não era uma comunhão de produção.
Além disto, estava baseada integralmente no princípio da espontaneidade [68]
.
Na primeira comunidade de Cristãos, com toda
certeza, podemos afirmar que havia muitos pobres e viúvas, além das pessoas que
ao se converter ao cristianismo, eram marginalizadas, discriminados e em alguns
casos até expulsos de sua casa pelos familiares que abominavam o cristianismo.
Justificando desta forma que aqueles que tinham alguma propriedade dividiam com
aqueles que nada possuíam.
Na medida em que a comunidade cristã se desenvolveu
numericamente, foi aumentando também a necessidade de fazer provisões adequadas
para os membros pobres da igreja. Isso produziu o problema da distribuição e
manuseio dos bens[69].
A princípio esta responsabilidade ficou a cargo dos apóstolos, o que mostra a
confiança e respeito que toda a comunidade possuía por eles. Mais tarde, no
entanto, esta responsabilidade foi transferida para as mãos dos irmãos
escolhido para esta tarefa, pois os apóstolos estavam sobrecarregados e
precisavam se dedicar exclusivamente ao ministério da Palavra, conforme Cairns
afirma:
Havia outra classe de oficiais que eram
democraticamente escolhidos “com o consenso de toda a igreja.” Sua tarefa era
executar as funções administrativas dentro da igreja local. Estes oficiais
surgiram com a divisão de funções e a especialização necessárias para ajudar os
sobrecarregados apóstolos diante dos problemas de uma igreja em crescimento[70].
A comunidade cristã cresceu e se propagou e podemos notar que a
preocupação com as necessidades dos irmãos continuaram, tanto que em
determinado momento da história a Igreja de Jerusalém passa por necessidades e
uma igreja gentílica recém-organizada, a igreja de Antioquia faz uma coleta e
envia para aqueles irmãos que estão padecendo fome [71]. Temos
aqui o primeiro exemplo de cooperativismo no Novo Testamento com sentido à
práxis social, ou seja, um grupo cooperando para diminuir o sofrimento de outro
grupo que estava passando necessidade.
Nesta fase a igreja já perdeu parte dos
preconceitos que porventura tenha trazido do judaísmo. E podemos notar que a
necessidade que os crentes de Jerusalém estão passando possa ter sido causada
pela generosidade de seus membros ou pelo padrão de vida comunal que eles
adotaram, que deixou aquela igreja com uma vida econômica debilitada, mas a
principal razão para essa crise foi a perseguição movida contra os judeus
crentes, porquanto muitos deles perderam suas propriedades e seus recursos
quando não perderam a própria vida.
Ao lermos o Novo Testamento, notamos no pensamento
dos autores, suas preocupações na prática do amor e em não se fazer acepções
das pessoas, é necessário que se viva da maneira como Cristo espera. Desses exemplos
destacamos nos ensinos de Paulo os seguintes exemplos: “Pois em Deus não há parcialidade”[72]. Paulo estava pensando aqui sobre a
noção judaica que imaginava que Deus devia algo aos judeus, simplesmente porque
eram descendentes carnais de Abraão, membro da nação que estabelecera uma
aliança com Deus. Este texto nos mostra a imparcialidade divina, todos os
homens diante de Deus são iguais, possuem os mesmos direitos e deveres, a
diferença está baseada simplesmente em aceitar ou não o sacrifício salvador de
Jesus Cristo, mas Deus ama a todos incondicionalmente.
Deve haver uma perfeita comunhão entre o cristão e
Jesus, aquele que deve ser o modelo a ser seguido. Se houver este tipo de comportamento estará combatendo de forma sincera
as injustiças sociais.
O amor, no pensamento Paulino, é peça fundamental
na vida do cristão e somente será real com atitudes práticas[73]. Notamos uma ênfase aos cristãos deixarem de lado o
legalismo proveniente do judaísmo e uma busca constante a serem imitadores de
Cristo. Havendo amor injustiças serão sempre condenadas e combatidas[74].
No tempo de Paulo, a escravidão era uma das formas
mais cruéis da injustiça social. A escravidão era uma instituição universal no
mundo antigo, os escravos não tinham direitos segundo a lei; eles não eram
considerados como pessoa, mas como uma coisa, um objeto. Houve algumas
exceções, mas no cômputo geral, as condições dos escravos eram lastimáveis,
eles estavam sob o controle absoluto de seu senhor. As faltas eram castigadas
sem misericórdia, seus filhos eram propriedade de seu senhor. Os escravos eram
subjugados com mão forte e intimidados pelas torturas.
Escrevendo a Filemon, Paulo está rogando por alguém
a quem o mundo romano não oferecia nenhuma simpatia, compreensão, amor ou
esperança. Um escravo fugitivo, que havia cometido uma séria ofensa à lei
romana. Nesta carta, Paulo pede que Filemon demonstre o seu caráter cristão e
que passe a tratar a seu escravo como um irmão, como um membro da família, pois
para ele: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem
mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus”[75].
Cristo alterou o relacionamento do mundo, aniquilando todas as distinções
criadas pelos seres humanos.
Nas cartas paulinas há também uma grande
preocupação com os necessitados, sempre demonstrando compaixão, tanto que ele
determina aos gálatas que seja feito o bem a todos[76].
Fazer o bem é uma obrigação daqueles que são imitadores de Cristo e a ação não
deve de maneira nenhuma ser exclusivo aos cristãos, deve atingir a todos e ser
uma constante na vida da Igreja.
No pensamento paulino deve existir entre o cristão
e Cristo uma interação que faça com que os cristãos sejam verdadeiros
imitadores, levando o evangelho àqueles que estão perdidos, e a estarem prontos
a sofrer por amor de Cristo. A injustiça é pecado e o cristão não deve se
conformar com elas, pelo contrario, deve ser um agente constante de
transformação[77].
Os autores das cartas gerais também combatem as
injustiças sociais. Em sua carta Tiago enfrentou uma situação em que as pessoas
estavam professando fé em Cristo e participando da comunidade cristã sem
perceber as vastas implicações morais e éticas de tal envolvimento. Para Tiago
a vida cristã envolve uma batalha constante contra o pecado e as injustiças, a profissão
de fé em Cristo exige uma ação prática do cristão, tanto que ele afirma: “Meus
irmãos, que vantagem há se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Essa fé
poderá salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiverem necessitados de roupas e do
alimento de cada dia, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e
saciai-vos, e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que vantagem
há nisso? Assim também a fé por si mesma é morta, se não tiver obras”[78].
Com clareza, Tiago está se dirigindo a cristãos, e está se opondo as pessoas
que dizem ter fé, mas não praticam o que ele considera que um cristão deve
fazer.
A ilustração que Tiago escolhe para expor a
insensatez da fé sem obras não apenas revela a difícil situação de alguns
cristãos primitivos, frio e fome, e a reação inadequada de alguns de seus
irmãos. As pessoas a que ele se opõe faziam algumas coisas; elas lhe desejavam
que passassem bem e até oravam por eles. Porém, isto não os levava a lhe dar as
coisas necessárias para o corpo; e a recusa para dar esse passo tornava inúteis
a sua simpatia e a sua oração. Para Tiago, ser crente é realizar as obras
cristãs.
Nas cartas de Pedro é dada ênfase aos cristãos
viverem em amor e a uma busca incessante da prática do bem. Tanto que ele
afirma: “Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz e nela insista”[79].
A prática do amor é também parte integrante das
cartas de João, e ele enfatiza tanto que afirma: “Nisto conhecemos o amor:
Cristo deu sua vida por nós, e
devemos dar nossa vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo
seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode
permanecer nele? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de boca, mas em ações e
em verdade”[80].
Os aspectos bíblicos da práxis social apresentam
com clareza a nossa responsabilidade social, pois em suas páginas a Bíblia
mostra que Deus criou o homem perfeito e bom, e que o ama ilimitadamente.
Porém, o ser humano tem liberdade, e as injustiças sociais existem porque a
liberdade tem sido usada de maneira errada, com muita ganância, maldade e
crueldade.
2
A IMPORTÂNCIA
DA PRÁXIS SOCIAL NO CONTEXTO DAS IGREJAS HISTÓRICAS NO SÉCULO XX
Durante
um período da história dos evangélicos a ação social não foi tratada com seu
devido valor, principalmente entre 1900 e 1960, havendo neste período fatores
que contribuíram para que os evangélicos agissem de tal forma. O contexto
histórico e as produções teológicas ajudaram profundamente para que houvesse
tal comportamento, no entanto na década de sessenta levantam-se homens
preocupados com uma mensagem evangélica que procura atender o individuo como um
todo. Neste período notamos também que as razões apresentadas estão sempre
relacionadas com a visão bíblica daqueles que estiveram produzindo o pensamento
teológico. Conforme afirma Stott: “É realmente estranho que em algum momento da
vida os seguidores de Jesus tenham chegado ao ponto de perguntar se tinham algo
a ver com engajamento social”42.
2.1.
ABORDAGEM DO CONTEXTO HISTÓRICO
O
contexto social e histórico no qual a igreja está inserida influencia
profundamente no seu relacionamento para com o mundo, tanto que na Idade Média
o horror da escravidão era aceito e, muitas vezes, até apoiado pelos líderes
religiosos[81].
O mundo
estava passando por um processo social que haveria de cobrar da igreja um
posicionamento com relação às mudanças ocorridas. Queda do feudalismo e
valorização das cidades e do comércio, descoberta de novas terras e colonização
das mesmas; Revolução Industrial na Europa, Revolução Francesa pondo fim ao
monarquismo absoluto e o exemplo a outras nações dos ideais liberais dos
franceses. Onde está a Igreja durante este processo social? Já que os problemas
sociais ainda continuam a existir; fome, pestes na Europa, tráfico desumano de
negros africanos, exploração dos povos americanos recém-descobertos.
As
mudanças sociais ocorridas na Europa influenciaram profundamente a teologia evangélica
do final do Século XIX e início do século XX, principalmente no tocante à perda
de influência do catolicismo nos Estados europeus. A França, após sua
revolução, declarou na sua Assembleia Nacional que as terras da igreja eram
públicas, os mosteiros foram fechados por lei e os bispos passaram a ser
escolhidos pelos mesmos eleitores que escolhiam os dirigentes civis e o Papa
seria apenas notificado da escolha[82].
As
colônias americanas começaram a dar seus gritos de liberdade, cansadas de serem
exploradas pela Europa, e começando pela revolução das colônias inglesa
norte-americanas, que dando certo, demonstrou a possibilidade de outras
colônias serem livres. Nos Estados Unidos da América houve também, neste
período, uma grande influência dos evangélicos nas questões sociais,
principalmente com relação à escravidão, apesar desta visão não ser algo geral.[83]
Com o
desenvolvimento da ciência o mundo foi abalado pela teoria evolucionista,
embora a teoria da evolução negue a criação direta do homem por Deus, o
prejuízo maior veio da aplicação da teoria ao desenvolvimento da religião. Deus
e a Bíblia foram vistos como produtos evolutivos da consciência religiosa
humana. A escatologia bíblica, para quem a perfeição só viria ao mundo por
intervenção direta de Deus através da volta de Cristo, foi substituída pela
doutrina evolucionista de um mundo que seria progressivamente melhorado pelo
esforço humano[84].
O
criticismo bíblico[85]
também faz parte do antecedente histórico, pois em seu aspecto negativo,
tratando a Bíblia é apenas um manual ético, tornou-se o principal método
de interpretação a partir da metade do século XIX. Além do criticismo, o
materialismo teve também uma grande influência no pensamento religioso que se
formou a partir do século XIX.
No princípio
do século XX o mundo á abalado por uma grande guerra[86],
onde o progresso científico é experimentado, o avião, recém-inventado, é
testado eficientemente como arma de guerra, milhares de pessoas são mortas ou
ficam mutiladas, deixando muitos órfãos e viúvas vítimas dos horrores da
guerra. Porém, devido à ganância de poder, vinte e cinco anos depois, o mundo é
abalado novamente por um grande conflito bélico envolvendo quase todas as
nações do mundo.
A segunda
guerra foi o maior exemplo de que a maldade humana não tem limite. Neste
período foram produzidos muitos pensamentos teológicos, alguns grandemente
influenciados pelos horrores da guerra[87]. O
ponto máximo desta guerra foi a utilização pela primeira vez da arma atômica,
onde milhares de civis foram mortos ou mutilados, com a agravante de sequelas
futuras devido a energia atômica. E neste ponto fazemos as perguntas: Quem é o
meu próximo?
2.2.
DESCASOS
OBSERVADOS
O
pensamento teológico liberal estava devastando as igrejas evangélicas na virada
do século XX e sua principal característica era o desejo de adaptar as ideias
religiosas à cultura e formas de pensar modernos. Os liberais insistem em que o
mundo se alterou desde os tempos que o cristianismo foi fundado, de modo que as
terminologias da Bíblia e dos credos são incompreensíveis às pessoas de hoje. E
há também a rejeição da crença religiosa baseada exclusivamente na autoridade
da Bíblia. Todas as crenças devem passar pela prova da razão e da experiência e
nossa mente deve estar aberta diante de novos fatos e verdades, independente de
sua origem. A religião não deve proteger-se contra a análise crítica. Sendo a
Bíblia, obra de escritores limitados, ela não é sobrenatural nem registro
infalível da revelação divina e, portanto não possui autoridade.
O
liberalismo também manifesta um otimismo humanista. A sociedade está avançando
em direção à realização do reino de Deus, que será um estado ético de perfeição
humano. A escatologia liberal considera que a obra de Deus entre os homens é de
redenção e salvação, não de castigo pelo pecado e este propósito será atingido
no decurso de um progresso de ascensão contínua.
Nesta
época os evangélicos ficaram tão preocupados a defenderem sua fé que
consideraram não possuir tempo para se envolver com problemas sociais, tanto
que surgiu um movimento que tinha por objetivo reafirmar o cristianismo bíblico
e defendê-lo contra os desafios da teologia liberal, da alta crítica, do
darwinismo e outros pensamentos considerados danosos ao cristianismo[88].
O marco
inicial deste movimento foi a publicação de doze livretos, entre 1910 e 1915,
intitulados os fundamentos. Nos quais se abrangiam os seguintes temas: uma
declaração e defesa apologética das principais doutrinas cristãs; uma defesa da
Bíblica contra a alta crítica alemã; uma crítica a movimentos considerados não
cristãos; uma ênfase dada à evangelização e às missões e uma amostra de
testemunhos de pessoas que contavam como Cristo operava em sua vida.
O
movimento chamado “evangelho social”[89]
que na época estava sendo desenvolvido por teólogos liberais e o qual tinha
suas ideias distintivas em torno das crises sociais e econômicas existentes e
das respostas contidas dentro da Bíblia e da história cristã, opondo-se ao
individualismo que predominava na vida econômica e que dava apoio à competição
irrestrita, os defensores do evangelho social insistiam na existência da
fraternidade que incluísse cooperação entre administração e operariado.
Viam, na
denúncia da injustiça pelos profetas, na vida e nos ensinos de Jesus e na
iminência de um Deus de amor na sociedade humana às ações para uma ordem humana
contrastante. Tal ordem seria realizada no reino de Deus, reino este
em que a vontade de Deus seria feita à medida que as vidas humanas expressassem
seu amor em todas as esferas de seus relacionamentos e das instituições da sociedade.
Para os defensores do evangelho social os primeiros anos do século XX pareciam
introduzir este reino com rapidez cada vez maior.
O apogeu
do movimento ocorreu com os lançamentos dos livros do pastor batista norte
americano, Walter Rauschenbusch[90],
“O Cristianismo e a crise social”, “Os Princípios sociais de Jesus” e “Uma
Teologia para o evangelho social”. O problema deste movimento é que ele perde a
visão da salvação individual e passa a ver apenas como algo que resultará das
mudanças sociais ou como afirma o próprio Rauschenbusch “o propósito essencial
do cristianismo é transformar a sociedade humana em reino de Deus através da
regeneração de todos os relacionamentos Humanos”[91]. Essa
posição teológica levou os evangélicos a condenarem o movimento.
Com a
Primeira Guerra mundial os evangélicos passaram a negligenciar com relação as
suas responsabilidades sociais, principalmente por causa da desilusão e o
pessimismo da maldade da guerra. Qualquer tentativa de reforma era inútil. Com
a guerra houve um terreno fértil para a disseminação da doutrina pré-milenista,
que considerava o mundo atual mal em si mesmo e sem qualquer condição de
melhorar ou melhor dizendo, ele estará se deteriorando até a volta de Jesus que
estará estabelecendo seu reino milenar aqui na terra.
Todas
estas questões contribuíram grandemente para que a maioria dos evangélicos
tratassem com indiferença as questões sociais, porém no Brasil além dessas
influências temos uma questão bem particular que influenciou os evangélicos,
que são os governos ditatoriais, nos quais o povo foi oprimido de tal forma que
não podia de forma nenhuma lutar pelos seus direitos, sob pena de serem
considerados inimigos do Estado e serem punidos duramente por isso. Questões
como reforma agrária, direito de greve, direitos humanos e tudo o que
envolvesse uma melhoria social, eram assuntos que não deveriam ser tratados
pelas igrejas, para não se envolverem os líderes evangélicos preferiam se
omitir em relação aos problemas sociais[92].
2.3.
A PRÁXIS DA COMUNHÃO NA REALIDADE DAS IGREJAS
EVANGÉLICAS HISTÓRICAS
Apesar do
descaso e dos variados problemas existentes com relação a ação social, sempre
houve alguém que se preocupasse com o problema do próximo, conforme
afirma Johnstone:
Os
grandes avivamentos evangélicos no passado foram acompanhados pela multiplicidade
de iniciativas sociais evangélicas, que transformaram as condições dos menos
privilegiados da sociedade. Essa verdade foi contundente principalmente no
reavivamento de Wesley e Whitefield no século XVIII e o Grande Avivamento do
Século XIX. Todo o sistema legal foi revisto, prisões reformadas, escravos
libertos, crianças pobres protegidas, educação universal promovida, e direito
dos trabalhadores estabelecidos. O principal fator da introdução dessas
conquistas na Europa e América do Norte foi a consciência social dos
evangélicos. Os missionários no século XIX enfatizavam firmemente a educação,
as reformas sociais e a instalação de programas de saúde como um componente
essencial de levar a mensagem do Evangelho[93].
O
congresso Internacional sobre a Evangelização Mundial realizado em julho de
1974, em Lausanne, na Suíça, um marco entre os evangélicos quanto à preocupação
e o cuidado com o outro. O Congresso de Lausanne foi extremamente significativo
para os evangélicos de todo mundo, porém, após sua realização houve um período
de certa tensão entre os evangélicos com relação a quem dar prioridade, ao
evangelismo ou à ação social.
Patrocinado
pelo Comitê de Lausanne e pela Aliança Evangélica Mundial realizou-se em
Grand Rapids (EUA) no ano de 1982 a “Consulta sobre a relação
entre a Evangelização e a Responsabilidade Social” cujo relatório final foi
intitulado “Evangelismo e Responsabilidade Social: Um Compromisso
Evangélico”. Enfatizando que a atividade social é consequência e
também um meio para a evangelização. Ambos são importantes e estão baseados nos
evangelhos, nas boas novas de salvação[94].
Analisando
esta seção do pacto, destacamos a seriedade do compromisso cristão e as suas
consequências, o texto apresenta algumas doutrinas importantes que estão
relacionadas com a ação social. Em primeiro lugar o texto inicia com uma
afirmação sobre Deus, ou seja, Ele é “o Criador e o Juiz de todos os homens”.
Deus não está preocupado somente com a igreja, ele está preocupado com todos os
homens. Pois todos os homens foram criados por ele, e a Ele prestarão contas no
dia do juízo. Nesta seção do pacto também notamos que a responsabilidade social
e a evangelização são dever dos cristãos, pois o homem foi criado a imagem de
Deus. E esta imagem de Deus permite ao homem uma dignidade intrínseca, valor que
pertence a todos os homens, sem distinção de raça, religião, cor, cultura,
classe social, sexo ou idade, por isso o ser humano deve ser respeitado, deve
ser amado e de maneira nenhuma deve ser explorado. A doutrina da salvação
também é enfatizada, pois a liberdade social e política não é salvação,
entretanto é nosso dever envolvermo-nos na ação social, não só pela nossa visão
de Deus e do homem, como também pelo nosso amor para com o próximo e de nossa
obediência a Jesus Cristo.
Sendo
cidadão do reino divino como fiéis súditos devem se submeter ao seu justo
governo e tem a obrigação de evidenciar isto.
Concluindo
esta seção uma frase polêmica em si mesma: A fé sem obras é morta. O
grupo de Lausanne concluiu que os cristãos precisam evidenciar sua fé através
de um envolvimento sério e sincero com relação a ação política e a ação social.
Não se pode negligenciar com as obrigações, e, muitas vezes, é necessário estar
preparado para pagar o preço deste envolvimento, pois em meio a um mundo
injusto, o cristão tem por obrigação defender e lutar para preservar a justiça.
Com
relação ao Brasil, as primeiras igrejas evangélicas procuraram atrelar a
evangelização com educação e o cuidado com os menos favorecidos, no entanto
devido as questões politicas que envolveram a Nação na década de 60 e uma
hermenêutica inadequada sobre os textos bíblicos que falam do principio de
autoridade, durante o período relativo ao Regime Militar a liderança das
igrejas protestantes evitaram o envolvimento com questões sociais, apesar de
algumas tentativas como a Conferência do Nordeste, promovida pela Confederação Evangélica do Brasil no ano de 1962, com o tema: Cristo e o processo
revolucionário brasileiro[95].
Na
Assembleia da Anual da Convenção Batista Brasileira, realizada no ano
de 1963, a Ordem dos Pastores corajosamente proclama um manifesto,
abordando os “Direitos da Pessoa Humana”, “Igreja e Estado” e “Justiça
Social”. Em meio a uma repressão política, e entre outras coisas,
declarado o seguinte:
Embora
afirmemos ser a renovação do homem, mediante a transformação da personalidade,
operada por Jesus Cristo, o fundamento básico sobre que terá de se alicerçar
uma sociedade realmente nova, propugnamos também pela realização de reformas de
base na vida nacional de sorte a possibilitar à criatura a concretização de
seus legítimos anseios terrenos. Por isso, preconizamos a promoção urgente de
reformas tais como: a) reforma agrária, que venha atender às
reivindicações do homem do campo explorado; b) reforma eleitoral, que venha
liquidar as circunstâncias que possibilitam e estimulam os nossos maus costumes
políticos; c) reforma administrativa, que ponha termo ao nepotismo, ao
filhotismo e a ineficiência tão generalizada quanto onerosa dos serviços
públicos; d) reforma da previdência social, que venha por em funcionamento as
nossas leis sociais com o pleno reconhecimento e o efetivo atendimento dos
direitos dos que trabalham[96].
Um ano
após este manifesto o país é abalado por uma revolução, que haveria de violar
os direitos dos cidadãos, intimidando todos aqueles que porventura desejassem
lutar pelos direitos do próximo.
Outros
grupos evangélicos manifestaram-se também com relação à ação social, porém até
meados da década de 80 o envolvimento social foi muito tímido.
3
A VOCAÇÃO DA IGREJA AO AMOR E
À MISERICÓRDIA
Quando
se fala sobre a Igreja neste trabalho não será enfatizado as diferenças
doutrinárias ou de cunho separatista, é bom contemplar a Igreja dos sonhos
daquele que a fundou, Jesus Cristo, e que de maneira muito especial a definiu
como comunidade vencedora, de comunhão e amor[97].
A Igreja
não foi fundada como resultado de uma instituição humana. Nem a genialidade de
indivíduos, nem o instinto ou o entusiasmo de uma multidão a criaram. Ninguém
foi questionado se queria alguma coisa relacionada à natureza da Igreja.
Ninguém foi dotado com habilidade para construí-la. Ninguém era digno, sim, mas
ninguém era não indigno para colocar suas mãos nesta tarefa. Um Apóstolo é
feito, como Paulo escreve em Gálatas 1:1, “não da parte de homens, nem por meio
de homem algum, mas por Jesus Cristo, e Deus, o Pai, que o ressuscitou de entre
os mortos”. É o ato do Jesus Cristo exaltado que deu-se a si próprio dando a
eles o seu Espírito, que torna a Igreja um fato, um acontecimento na forma de
uma assembleia e comunidade humana, de um lugar no cenário humano, formado e
encenado por homens, um pedaço da história humana. Uma vez que o homem não
criou e fundou a Igreja, ele não pode ser seu Senhor[98].
Em
sua carta aos Romanos, Coríntios e aos Efésios, Paulo faz uma analogia da
Igreja como corpo[99],
o corpo humano, deixando claro sua unidade, sem necessariamente haver
uniformidade[100]
e a sua extensão na continuidade da missão.
Só
é possível existir Igreja se existir pessoas, a Igreja é composta de pessoas
que assumiram sua identificação com Cristo a partir do batismo, conforme a
declaração paulina de morte para o mundo e renascimento para uma nova vida[101]. A
Igreja reunida em celebração relembra o sacrifício vicário de Cristo através da
Ceia do Senhor, um momento impar de comunhão entre o Corpo de Cristo e o Senhor
da Igreja, numa tarefa que há de se repetir até a sua volta[102].
Ser
Igreja não é somente está reunida nos momentos de celebração, são necessárias
ações que estejam refletindo a presença de Jesus Cristo na vida daqueles que a
compõe[103].
A Igreja se identifica com Cristo com atitudes[104]
que demonstre sua preocupação e seu comprometimento em melhorar as condições de
vida da comunidade onde estiver inserida[105].
3.1.
A IGREJA CHAMADA A SE IDENTIFICAR COM CRISTO
Desde sua
caminhada pela Judeia, Jesus demonstra completa identificação com a humanidade,
a declaração do Evangelho de João: O Verbo se fez carne e habitou entre nós ou
a afirmação paulina da Kenosis é uma demonstração clara de tudo que Deus fez
para uma completa identificação com a humanidade[106].
A
comunidade que se forma começa a se espalhar, o sentimento que os une é o elo
forte para vencerem as perseguições, tudo é muito novo, todos os dias pessoas
são acrescentadas a Igreja nascente, e na cidade de Antioquia pela primeira vez
são chamados de cristãos, é maravilhoso saber que os de fora estavam vendo na
Igreja a presença de Cristo.
Jesus
deixa duas ordenanças para que seus discípulos praticassem com aqueles que
iriam se juntar a eles, o batismo e a Ceia do Senhor são ordenanças deixadas por
Jesus Cristo para a Igreja, as quais possuem o significado de identificação com
morte e ressurreição do Senhor da Igreja. O apóstolo Pedro afirma que os
exemplos deixados por Jesus são para serem seguidos e em Paulo se encontra a sistematização
quanto a maneira como deve ser praticada na Igreja e pela Igreja. Tanto o
batismo, quanto a Ceia do Senhor é celebração e atitude de culto.
O
rito de ingresso à Igreja é o batismo, uma prática comum no tempo de Jesus[107],
tanto que João Batista estava na margem do Jordão proclamando aos judeus o
batismo de arrependimento[108],
uma mensagem muito ousada, por comparar os judeus aos gentios, mostrando que a
filiação de Deus é muito mais que consanguinidade.
Apesar
de não precisar de arrependimento, Jesus vai até João a fim de ser batizado[109].
Embora sem pecado, Jesus se identificou com os pecadores a quem viera salvar[110].
A iniciativa do batismo é de Jesus, João deixa claro seu entendimento de
subordinação, e em toda sua caminhada o Senhor ensina através de seu exemplo de
humildade e obediência ao Pai. O batismo de Jesus marca um novo ciclo na vida
da humanidade, ele começa o seu ministério terreno, se torna visível às
pessoas, convida homens para serem seus seguidores, anda por todos os lugares
pregando as boas novas do Reino e demonstrando amor, misericórdia e compaixão. O
batismo é um marco na vida de Jesus, como também deve ser na vida de todos os
cristãos.
Com
a finalização da sua obra redentora, antes de sua ascensão, Jesus ordena a seus
discípulos a fazerem discípulos[111],
sendo o batismo parte integrante da missão e a porta de entrada na Igreja. A
celebração do batismo pela Igreja após o Pentecostes assume um novo significado,
é uma cerimonia de culto onde o batizando declara morrer para o mundo e nascer
para uma nova vida.
Rapidamente
a celebração do batismo é sistematizada pelos primeiros cristãos[112].
Na Igreja
dos apóstolos parece ter havido uma viva consciência da necessidade relacional
que cada crente e o corpo dos fiéis deveriam travar com a pessoa do Espírito
Santo. Tratava-se, efetivamente de uma experiência de relação, sem a qual o
batizado não poderia se sustentar. A partir da experiência de Pentecostes, a
Igreja estava certa de ter sido gerada maternalmente por Deus na fecundidade do
Espírito Santo[113].
Os pais
da igreja compreendiam que ela era o povo de Deus, a nova sociedade espiritual
de crentes em Jesus, na qual se entrava pelo batismo[114].
A presença do Espírito Santo é o diferencial[115]
que traz unidade entre as pessoas e a comunhão com Cristo. É na força do
Espírito Santo que a igreja coloca o seu carisma no cumprimento da missão.
No livro
de Atos o crescimento da Igreja é marcado pelo número de batismos realizados. O
batismo é um ato de obediência e também um testemunho de fé daqueles que
acolheram a Palavra e encontraram em Cristo a novidade de vida[116].
A
ekklésia recebia, em sua comunhão, todos os que aceitassem a proclamação de
Jesus como Messias, se arrependessem e recebessem o batismo em água. A prática
do batismo em água foi trazida dos dias de Jesus, mas recebeu novo significado.
Agora que Jesus foi reconhecido como o Senhor ressurreto e exaltado, o batismo
tornou-se sinal visível da admissão à comunhão cristã, e os crentes são
batizados “em o nome de Jesus Cristo” (At 2.38). Nenhum intervalo importante de
tempo decorria entre o ato de crer em Cristo e o batismo[117].
A nova
comunidade dos batizados, a Igreja, adquire características marcantes na
relação ensino aprendizado, na comunhão, na ajuda ao próximo, e tudo isso tem
reflexo direto na adoração.
A
descrição das primeiras comunidades é quase parte de um “credo” ou “profissão
de fé” cristã e pode ser compreendida dentro de quatro estágios: a) Assiduidade nos
ensinamentos dos apóstolos; b) Comunhão fraterna; c) Fração do pão; d) Vida de
oração. A apresentação da vida das primeiras comunidades não é uma mera
descrição narrativa de um modus vivendi, mas uma forma querigmática das
exigências para quem quer abraçar o Evangelho a exemplo de Jesus[118].
A identificação
do cristão com Cristo é real a partir do significado que o batismo incorpora em
sua vida, o apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos afirma: Portanto, fomos sepultados com ele na morte pelo
batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Para ele batismo significa
mortificação do pecado, purificação e justificação. Uma vida nova começa no
sacrifício de Cristo da cruz, é confirmado pelo batismo, e glorificado na vida
eterna com Deus[119].
A
expressão ‘sunetáphêmen aytô’ (= sepultados com ele) indica o modo como o
cristão vai viver o seu batismo. Jesus não realizou sua vida sepultado, mas na
diaconia, no resgate e na missão. Esse sepultamento com Cristo é a capacidade
de renunciar a si mesmo (Fl 2.5-11) aos seus vínculos com o passado, de
abandonar as paranoias familiares e tomar a sua cruz (missão), e quem não sai
das suas estruturas pessoais e não busca o caminho da comunhão e compromisso
com o outro não pode ser sepultado, nem ressuscitar com ele (Lc 14.25-33). Só
quem morre para o pecado consegue estabelecer uma vida nova em Cristo (Cl
2.6-23). A morte com Cristo estabelece uma convivência harmônica para uma nova
realidade. O cristão, morto para o pecado, cresce alimentado por outra raiz, a
vida em Cristo[120].
Jesus
celebra a Páscoa dos judeus com seus discípulos e institui com eles um memorial
que há de ser celebrado pela Igreja até a sua volta[121].
Jesus tinha o hábito de aproveitar as refeições para fazer delas momentos de
ensino para compreensão dos seus ouvintes quanto a quem ele era, e o que estava
por vir. Durante o jantar Jesus Cristo convida seus discípulos a participar da
comunhão com o seu corpo e seu sangue, comunhão esta a se repetir até a sua
volta.
A
celebração da Ceia do Senhor [122] desde
o inicio da história da Igreja é parte “solene” do culto[123],
o texto mais antigo a fazer referência e sistematizar os cuidados que se deve
ter na sua celebração é 1o Coríntios 11.17-34, o apóstolo
Paulo, após criticas severas ao comportamento daquela Igreja, os quais estavam
menosprezando e vulgarizando aquele momento de culto, transformando o que
deveria ser momento de comunhão e avaliação introspectiva em dissensões. Para
participar do Corpo e do Sangue de Jesus é preciso fazê-lo de maneira digna.
A
celebração Ceia na Igreja de Corinto estava sendo usada como elemento para
enfatiza as divisões, a glutonaria, o desprezo aos pobres e a profanação de um
ato sagrado. Um momento lindo de comunhão e identificação com Jesus Cristo se
perdendo por causa do egoísmo humano.
No
Batismo o crente se identifica com Cristo na sua morte e ressurreição, na Ceia
do Senhor a identificação é com seu sacrifício vicário, fazendo-o retornar a
noite da traição[124]
quando o Mestre demonstra através dos elementos o preço pago pela salvação da
humanidade. O pão é corpo, corpo do Senhor entregue de maneira completa, e o
vinho, sangue derramado como oferta pelos pecados. A misericórdia Deus alcançou a humanidade
permitindo que homens e mulheres participem do Corpo de Cristo, a Igreja; e
também vivencie a experiência de unidade deste corpo através do batismo e da
ceia.
3.2.
UM CONVITE A PARTICIPAÇÃO E AO COMPROMETIMENTO
Ser Igreja é ser corpo de Cristo em missão na terra, ou seja, o que
Jesus fazia cabe a Igreja continuar fazendo, e de acordo com o evangelho de
João em amplitude muito maior[125].
O ministério de Cristo é o ministério da Igreja: Jesus percorreu toda a Galileia, ensinando nas sinagogas
deles, pregando o evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades
entre o povo[126].
É necessário para a Igreja uma compreensão de que está no mundo como
agente de transformação. Jesus tinha três atividades que marcaram seu
ministério, o ensino, a pregação e a cura. O ensino se destacava, tanto que ele
era chamado de Mestre; a pregação era o anuncio do Reino, uma mensagem de
esperança; e a cura era a manifestação de misericórdia com os que estavam sofrendo
dores no corpo e na alma. Em todas as circunstâncias observamos Jesus cuidando,
se identificando e tendo compaixão de pessoas. Homens e mulheres, muitas vezes
discriminados e marginalizados, que conseguem de Jesus a Atenção. É papel da Igreja hoje demonstrar compaixão
através do ensino, da pregação e da cura, pois assim ela estará cumprindo sua
missão[127].
O ministério de Jesus tinha como prioridade as pessoas, todos que são
Igreja são chamados à continuidade deste ministério[128].
Para a realização deste serviço, todos que são Igreja tem o chamado para o
exercício do ministério, cada um com o Dom recebido do Espírito Santo. A Igreja
não é espaço para ociosidade, afinal de contas às necessidades a sua volta são
constantes.
Como Corpo vivo de Cristo, a Igreja como comunidade local, precisa
verificar as oportunidades de servir a sua comunidade, não existe uma formula
ou receita para ser copiada ou aplicada em todos os lugares. Em uma mesma
cidade teremos várias comunidades com necessidades diferentes. Como parte
integrante da sociedade é papel da Igreja buscar ações demonstre amor e
compaixão, atitudes de serviço que restaure a dignidade das pessoas, e as
ajudem a transformar sua realidade.
Considerando o espaço físico que a maioria das Igrejas possui, e de
acordo com o contexto de sua comunidade, ter atividades de auxilio aos
necessitados, oportunidades de integração social para aqueles que são
marginalizados por sua condição ou atividades concretas na busca de
transformação social[129].
No ano de 1995, a Igreja Batista da cidade de Glória do Goitá[130],
Pernambuco, tem o desafio de ser agente de transformação. Uma cidade com poucos
meios de produção, um índice de pobreza e analfabetismo alto, desvalorização da
mulher e com ações política viciadas onde o poder econômico determinava quem
estaria administrando a cidade. A Igreja, através de sua liderança, realizou
palestras nas escolas sobre cidadania e sexualidade de acordo com os princípios
cristãos, ocupou cadeira no Conselho Municipal de Saúde, participou ativamente
do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF), contribuiu com o
Conselho de Desenvolvimento Municipal e trabalhou ativamente na valorização da
mulher e no fortalecimento da família. Era uma comunidade numericamente
pequena, mas grande através do engajamento com sua comunidade e na maneira como
foi capaz de fazer diferença[131].
Em 1998, A Igreja Batista Betânia na cidade de Gravatá[132],
Pernambuco, começa a viver um novo tempo em sua história. A Cidade de Gravatá
fica no eixo rodoviário entre as cidades de Recife e Caruaru, se destacando no
turismo pelo seu clima de serra muito agradável durante todo ano, com vasta
rede de hotelaria, comercio de artesanatos e um importante polo moveleiro. Um
povo de uma religiosidade muito viva, com sérios problemas nas áreas de saúde e
educação.
A Igreja Batista Betânia entende que pode fazer mais do que anunciar a
Palavra de Deus, ela pode viver esta Palavra através de vida de serviço e
comprometimento com a sua comunidade. Devido à reforma a reforma de um colégio
estadual da cidade, suas portas são abertas à comunidade e salas são
franqueadas para que não houvesse prejuízo para o ano letivo de crianças e
adolescentes, tempos depois as salas são utilizadas por uma escola municipal
que também passava por reforma.
A igreja possui uma propriedade em um bairro carente da cidade e decide
aproveitar o espaço para abençoar a pessoas a sua volta, o projeto Viver Feliz
funcionava durante o dia e tinha como objetivo evitar a ociosidade das crianças
através do contra turno[133],
com aulas de reforço, matemática, português, educação cristã, atividades
musicais e ajuda com as tarefas da escola. Durante a noite, em parceria com a
Secretaria Municipal de Educação, foi criado turmas de educação de jovens e
adultos, sendo gratificante ver pessoas sonhando com um futuro melhor e
agradecendo a oportunidade de voltar a estudar.
Em 2003, num passo de fé, a Família Batista Betânia, como é
carinhosamente chamada a Igreja e suas organizações, decide com grande ousadia,
criar um colégio com educação de qualidade, valorizando os talentos da própria
cidade e trabalhando o ser
humano dando-lhe além do conhecimento científico, a promoção de uma consciência
religiosa com base nos princípios cristãos. O colégio inicia o ano letivo em
2004 com 108 alunos, e no ano de 2016 está com 470 alunos do pré-escolar ao
ensino médio, e empregando 53 pessoas entre professores e colaboradores da área
de apoio. Os alunos são estimulados a olharem com igualdade para o outro e
viverem a solidariedade[134][135].
Não existe um modelo especifico para a Igreja
participar da comunidade, em 2006, a Igreja Batista da Cidade Nova, um bairro
da cidade de Manaus, Amazonas, começa novos projetos voltados para o
envolvimento entre Igreja e sua comunidade, a cidade de Manaus tem todos os
desafios relativos a um grande centro urbano, mas a Igreja entende poder abrir
suas portas com assistência médica e de cidadania, semestralmente é realizada
uma ação conjunta, oferecendo gratuitamente serviços de saúde e cidadania, uma
equipe de voluntário se coloca a disposição para assistir a comunidade em suas
diversas necessidades. A Igreja cria projetos em dois bairros da periferia da
cidade assistindo crianças e adolescentes com reforço escolar, cidadania e
educação cristã. A Igreja da Batista da Cidade Nova formaliza parceria com o
hemocentro da cidade, trabalhando na captação de doadores de sangue e se
compromete com o banco de dados de doadores de medula óssea[136].
Uma Igreja chamada a participar de sua comunidade,
procura conhecer as pessoas que estão a sua volta, suas necessidades, seus
sonhos e aspirações, e participam juntos na construção de uma nova realidade.
Os
cristãos precisam aprender a viver como cidadão do reino de Deus e ao mesmo
tempo membro de sua comunidade, e de maneira nenhuma ele deve isolar-se de uma
em detrimento a outra. Cada cristão e cada igreja estão relacionados com a
sociedade e seus problemas, pois é impossível separar o indivíduo dos problemas
que o afligem tratando apenas o aspecto espiritual, tendo em vista que a missão
da igreja é adorar, cultuar, ensinar, nutrir, proclamar, evangelizar, servir e
ministrar.
A igreja
precisa influenciar no bairro, no morro, na rua, nos centros comerciais, nos
centros residenciais, nos conjuntos habitacionais de tal forma que
evangelização tomará um impulso dinâmico, o crescimento da igreja será uma
constante, o desenvolvimento dos membros será surpreendente, pois muitos que
ainda não tenham se despertado para trabalhar, ser ativo, dinâmico, agora com a
oportunidade de atuação em variadas áreas vão se sentir mais úteis na obra de
Deus e irão influenciar outros.
É preciso
que a igreja se conscientize das possibilidades de servir. A igreja hoje, mais
do que em outros tempos, precisa se fazer presente na sociedade onde está
inserida, deixando as marcas de Cristo na vida daqueles que estão à sua volta.
CONCLUSÃO
Sendo a
igreja o Corpo de Cristo, cremos que o Corpo deve seguir as determinações do Cabeça,
que é Cristo. Observando a Igreja e a práxis social, concluímos que a partir de
uma hermenêutica consciente e madura do texto bíblico nos conscientizaremos que
a ação social, a compaixão e misericórdia é também um problema da Igreja. Pois
algumas considerações bíblicas demonstram isso.
A respeito
da pessoa de Deus, afirmamos que ele é
infinitamente bom, justo e perfeito. Criador de todas as coisas, inclusive do
homem; como Criador, Deus ama suas criaturas, independente de qualquer coisa.
Sendo Deus justo e amando suas criaturas, sabemos que ele condena qualquer tipo
de injustiça. E durante a história, em momentos de abusos, Deus levantou homens
para que em seu nome condenassem tais situações.
A questão
do homem na visão teológica é extremamente importante. Deus criou todo o
universo, a terra e tudo que há nela e por fim criou o homem. O homem foi feito
à imagem e semelhança de seu criador, um ser moral e espiritual.
Toda a criação divina estava à disposição do homem, nada lhe faltava. No
aspecto social constatamos o triste quadro de vermos aqueles que foram criados
à semelhança de seu Criador sendo condenados a morrerem de fome, sendo humilhados,
não possuindo o necessário para sua sobrevivência.
Em
relação ao pecado concluímos que nada mais é do que a intromissão da vontade do
homem na vontade do Criador. Deus deu liberdade ao homem, e este optou em se
afastar dos propósitos divinos. O pecado é a razão da existência das injustiças
em todos os seus aspectos.
A
salvação é de valor inestimável, cremos ser a salvação o momento em que o
indivíduo aceita todo o sacrifício demonstrado por Deus para sua recuperação,
passando a fazer parte do seu reino eterno. Como cidadãos do reino de Deus não
se pode aceitar ou compartilhar com injustiças. A salvação é para todos os
homens sem qualquer tipo de distinção. É um ato de transformação total do
indivíduo.
A
influência da vida de Cristo no mundo. Jesus Cristo é Deus encarnado, ou seja,
Deus se fez homem, conviveu com os homens, sofreu como os homens e conhece de
perto todos os problemas da humanidade. Cristo é a prova do amor divino para
cada ser humano, morrendo na cruz em lugar de cada um de nós, demonstrando o
valor que cada indivíduo tem para Deus. Durante seu ministério terreno Cristo
sensibilizou-se com os problemas da humanidade, muitas vezes curando e
ensinando, demonstrando que ele se preocupa com as pessoas de maneira total e
integralmente.
Finalizando
os aspectos bíblicos é importante sabermos o que é a Igreja e qual é a suam
missão. A igreja é a comunidade dos indivíduos transformados pela mensagem do
evangelho e a sua missão é apresentar em todos os aspectos o amor de Deus para
com os homens. A igreja deve influenciar o mundo com a sua mensagem de
salvação, justiça e amor.
Partindo-se
dos pressupostos bíblicos concluímos que na visão divina a igreja, portadora
da mensagem profética deve se levantar e agir para que as injustiças
sociais sejam minimizadas, que a compaixão e a misericórdia estejam presentes
em todos os projetos da vida eclesiástica.
No
decorrer da história da igreja houve épocas em que ela negligenciou sua
responsabilidade social, porem Deus levantou homens que conscientes de suas
responsabilidades levantaram grupos a se envolverem com a causa do próximo, e
que tenhamos cuidado para que a acomodação não venha fazer a história se
repetir.
Foram
apresentados os aspectos bíblicos, a situação histórica, porém, se conclui que
a necessidade do nosso povo é enorme, os problemas sociais são gigantescos, e
ainda há muito a se fazer. A Igreja precisa, como comunidade local, viver com
intensidade o mandamento de amar ao próximo, cumprir com responsabilidade suas
obrigações sociais e a serem verdadeiros seguidores de Cristo. Atendendo as
necessidades básicas de sua comunidade, envolvendo-se com os problemas,
ajudando nas suas resoluções e sendo um local onde a comunidade possa ter
certeza de que haverá de encontrar ajuda.
Não queremos
ser a última palavra no assunto, pois sabemos que os problemas sociais são
dinâmicos e cada região possui características próprias. Sabemos também que a
Igreja tem atuado com compaixão e misericordia. As necessidades são muitas, e
muito já se tem falado sobre o assunto, agora é hora de ação. Demonstremos o
amor de Deus com atitudes práticas, amemos ao nosso próximo.
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[1] Violência urbana, corrupção,
desemprego, alta do custo de vida, suspensão de direitos dos trabalhadores,
concentração de renda, pouco investimento em educação e saúde, poluição do ar,
dos rios e dos mares; crise hídrica, energética, ética; autoritarismo, estrelismo,
fundamentalismo religioso na política e tantas outras injustiças e desmandos
compõem o legado que recebemos enquanto um país que joga na segunda divisão dos
países capitalistas e que afeta nossa qualidade de vida, impede a paz social e
nos deixa indignado como cristãos e como cidadãos. BRITO, C. A. C., Sem meias palavras: justiça, cidadania e direitos
humanos. Rio de Janeiro: Centro de Juventude Cristã, 2015, p. 197.
[2] Ao usar a palavra Igreja neste
trabalho, se parte da definição a seguir: A Igreja consiste nos crentes em
Jesus Cristo, batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
compromissados uns aos outros em amor, e chamados para fora deste mundo a fim
de viverem em uma comunhão de adoração cuidado e testemunho. HAYES, E., A Igreja, o Corpo de Cristo no mundo hoje.
São Paulo: Hagnos, 2002, p. 25.
[3] CIRINO, A. C. B., Ministério Social Cristão. Rio de
Janeiro: Convicção, 2012, p. 25.
[4] Jo 17.18. As citações bíblicas
deste trabalho utilizarão a Bíblia Sagrada Almeida Século XXI, São Paulo: Vida
Nova, 2008.
[5] A compaixão é amor em ação.
Consiste na cura dos males físicos e psicológicos. Consiste em ajudar àqueles
que padecem carências, para que venham a possuir aquilo que necessitam, para
que aprendam a produzir. Consiste em imitar a atitude de Jesus, da qual
resultava boas ações, como quando ele teve compaixão das multidões, pois eram
como ovelha sem pastor (Mt 9.36). A
compaixão envolve mais do que as emoções de piedade ou de simpatia. A compaixão
consiste em um ato que procura consolar ou melhorar a situação do nosso
próximo, e não meramente porque nos sentimos mail diante desta situação
adversa. A piedade pode existir apenas nos sentimentos e na mente; mas a
compaixão, por força de sua própria definição, só se manifesta por meio de ação
apropriada. O trecho de I João 3.18 recomenda: “Filhinhos, não amemos de
palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade”. CHAMPLIN, R.N., “Compaixão”. In: CHAMPLIN,
R.N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e
filosofia. Volume 1. São Paulo: Hagnos, 2011.
[7] PACTO DE LAUSANNE. A
Responsabilidade Social Cristã. http://www.ultimato.com.br/
pagina/ pacto-de-lausanne.
Acessado em 06 de março de 2016.
[8] “Entende-se vulgarmente
por ação social uma intervenção voluntária, em muitos casos organizada, que tem
por objetivo modificar o meio social, melhorar situações sociais ou mudar
condições sociais. A expressão é em si mesma bastante vaga. Devem distinguir-se
dois níveis de ação social. 1. O nível do trabalho social, da assistência
social, do serviço social que visa, no interior de um dado sistema e com base
numa legislação determinada, trazer remédios para os males sociais mais
importantes ou evitá-los e facilitar ao povo a solução dos problemas que ele
não pode resolver sozinho. 2. O nível de uma ação social mais profunda sobre a
sociedade que visa por vezes até mudanças nas estruturas sociais e nas
instituições. neste caso, a ação social é constituída por uma força
ou um movimento que pretende operar reformas de caráter político, econômico,
institucional, cultual, educativo, com vista a uma maior justiça social”.
BIROU, A., Dicionário das Ciências Sociais. Lisboa: Dom Quixote, 1982, p. 21.
[9] “Não é, pois, por acaso, e nem é
de se estranhar, que os dois grandes sejam que amemos com todo o nosso ser e
que amemos o nosso próximo como a nós mesmos. A lei deixa bem claras as
implicações destes mandamentos. Por exemplo: o povo de Deus devia “temer”,
“amar” e “servir” a ele. Como? Em parte, “andando em seus caminhos” e
“guardando os seus mandamentos”, pois ele é “Deus dos deuses e o Senhor dos
senhores”, o qual por isso mesmo, merece ser adorado; e, em parte, seguindo o
seu exemplo, como aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o
estrangeiro, dando-lhe pão e veste”. Assim, adoração e obediência, por um lado,
e filantropia e justiça, por outro, andam de mãos dadas, constituindo-se no
duplo dever do povo de Deus”. STOTT, J. R. W., Ouça o Espírito, ouça o mundo, São Paulo: ABU, 1998, p. 383.
[10] “Deus é conhecido, segundo o
Velho Testamento, não porque os homens, nos seus esforços intelectuais, o
descobriram, mas porque o próprio Deus se revelou”. CRABTREE, A. R., Teologia do Velho Testamento. Rio de
Janeiro: JUERP, 1986, p. 45.
[11] “A crença da igreja na criação
do mundo vem expressa já no primeiro artigo da Confissão de Fé Apostólica:
“Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador dos céus e da terra”. Esta é uma
expressão de fé mantida pela Igreja Primitiva de que Deus, por seu poder
absoluto, produziu do nada o universo”. BERKHOF, L., Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho Publicações,
1990, p. 129.
[12] “A declaração: “Deus é o Criador
do Mundo” tem no cerne um duplo conteúdo: ela fala da liberdade de Deus (alguém
poderia dizer também: da sua santidade) sobre o mundo, e de seu relacionamento
(alguém poderia dizer também: de Seu
amor) com o mundo”. BARTH, K., Credo,
comentário ao credo apostólico. São Paulo: Cristã Novo Século, 2005, p. 54.
[13] Cf. Sl 8.5-6. Que é o homem? O
ser humano é tão insignificante e, no entanto, tão grande; tão pequeno, mas tão
importante; tão tolo, mas tão sábio. CHAMPLIN,
R.N., O Antigo Testamento interpretado:
versículo por versículo, volume 4. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 2079.
[15] Cf. Gn 6.11,12
[16] “Quando Deus chama os homens à
justiça, não porque seja mero capricho dele que os homens sejam justos. É
porque ele mesmo é justo, e havendo criado o homem à sua imagem, deseja que
reflita a sua própria justiça. Quando pede que os homens manifestem o espírito
compassivo para com os fracos, é porque ele mesmo revelou este espírito de
libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.” ROWLEY,
H. H., “The Re-Discovery of the Old Testament”. In: CRABTREE, A. R., op. cit. p. 45.
[17] Cf. Gn 12.2
[18] CHAMPLIN, R.N., O Antigo Testamento interpretado: versículo
por versículo, volume 1. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 101.
[19] Êx 1.13,14
[20] Êx 3.7,8
[21] “O amor ao próximo já se
encontra no Antigo Testamento e no judaísmo. Pela primeira vez ele está
prescrito na lei de santidade – portanto, na parte mais recente do imenso
conjunto das leis. Em Lv 19,18, fala-se do amor ao próximo que, em princípio,
goza do mesmo status. THEISSEN, G., A religião dos primeiros cristãos, uma
teoria do cristianismo primitivo. São Paulo: Paulinas, 2009, p.99.
[22] Dt 15.7,8,11
[24] CHAMPLIN, R.N., “Jubileu”. In:
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia,
teologia e filosofia. Volume 3. São Paulo: Hagnos, 2011.
[25] Cf. Sl 24.1
[26] Cf. Lv 25.23
[27] Cf. Lv 25.13
[28] Cf. Jz 2.10-12
[29] Cf. Jz 4.4
[30] 2Sm 8.15
[31] GONÇALVES, A. S. J. A
Bíblia, Livro por Livro. Rio de Janeiro: JUERP, 2007, p. 51.
[32] Lendo os profetas vemos que eles
eram homens de profunda visão social e, mais importante que isto, que o Deus a
quem eles serviam e a quem servimos, tem visão social. COELHO, I. G., Isaías – O Evangelho do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP,
2001, p. 184.
[33] CIRINO, A. C. B., op. cit. p 25.
[34] CHAMPLIN, R.N.,
“Isaias” In: CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia
de Bíblia, teologia e filosofia. Volume 3. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 373.
[35] Is 1.17 – Repedidas vezes no
Antigo Testamento, justiça descreve cuidar da causa dos órfãos, das viúvas, dos
estrangeiros e dos pobres – conhecidos como “o quarteto da vulnerabilidade”.
Nas sociedades pré-modernas, esses grupos não tinham poder social. Mal tinham o
que comer e, se houvesse fome na terra, invasões ou até mesmo distúrbio social,
morreriam em questão de dias. Hoje esse quarteto abrangeria refugiados, trabalhadores
imigrantes, os sem-teto, e os muitos idosos e pais/mães que cuidam sozinhos dos
filhos. KELLER, T., Justiça generosa: a
graça de Deus e a justiça social. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 26.
[36] Cf. Lc 4.17-19
[37] KELLER, T., Justiça generosa: a graça de Deus e a justiça social. São Paulo:
Vida Nova, 2013, p. 66.
[38] Cf. Jr 7.3-6 e Jr 22.3
[39] Cf. Ez 22.7, Zc 7.10 e Ml 3.5
[40] Amós desvenda a massa decadente
de formalismo religioso e de corrupção moral ( Am 5.12,21) que há por baixo da
película respeitável de prosperidade material da nação. Ressalta a total
desconsideração para com a pessoa humana (Am 2.6) e destaca a deterioração da
moralidade e da justiça social (Am 2.7,8). BÍLBIA, Bíblia Almeida Século XXI. Introdução ao livro
de Amós. São
Paulo: Vida Nova, 2008.
[41] O Senhor, seus profetas e os
apóstolos deram a Palavra de Deus à igreja. Os concílios não fizeram da Bíblia
Palavra de Deus, eles a reconheceram como tal. HAYES, E., op. cit. p. 86.
[42] Na cristologia, obviamente, a
valorização unilateral do Cristo glorificado tem levado a deixar muito em
segundo plano a importância do serviço, que guiou Jesus até o desfecho da cruz;
ou, ao contrário, a valorização unilateral do Jesus terreno tem levado a
descuidar ou deixar de lado o glorificado. RUBIO, A. G., O encontro com Jesus Cristo Vivo: um ensaio de cristologia para nossos
dias. São Paulo: Paulinas, 2012, p. 19.
[43] Jesus não deixou de lado, de
modo algum, a preocupação do Antigo Testamento por justiça. Na verdade, Jesus
se interessa e ama profundamente os mesmos tipos de pessoas vulneráveis.
KELLER, T., Justiça generosa: a graça de
Deus e a justiça social. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 61.
[44] LESSA, H. S., Ação Social Cristã.
Rio de Janeiro: Movimento “Diretriz Evangélica”, 1969, p. 22.
[45] Alguns comentaristas sugerem que
Jesus está alterando ou expandindo as exigências morais da Lei de Moisés para
uma nova dispensa. O próprio Jesus, enfaticamente, disse o contrário. Além
disso, todo princípio que Jesus usou para refutar a interpretação da lei feita
pelos fariseus já estava enunciado ou simplesmente implícito no Antigo
Testamento. MACARTHUR, J., A outra face:
descubra o lado questionador, crítico, impetuoso e revolucionário de Jesus
Cristo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2010, p. 174.
[46] Observemos como Cristo cumpre a
lei. Uma vez mais, esse é um aspecto tão importante que nós deveríamos sentir
impelidos à adoração e à veneração. Primeiramente Cristo nasceu “sob a lei”.
Para as nossas mentes finitas, é dificílimo apreender o que isso significa, mas
essa é uma das verdades essenciais a respeito da encarnação do Filho de Deus –
ele nasceu sob a lei. Embora eternamente superior à lei, por ser o próprio
Filho de Deus, Jesus veio e nasceu sujeito à lei, como alguém que estivesse na
obrigação de cumpri-la. Em nenhuma outra oportunidade Deus demonstrou mais
patente o caráter absoluto e inviolável de sua própria santa lei como quando
sujeitou a ela o seu próprio Filho. LLOYD, D. M., Estudo no Sermão do Monte. São José dos Campos: Fiel, 2015, p. 179.
[47] Essa sentença possui dois
sentidos. Com efeito, aquele que diz: “Não vim para revogar a Lei, mas para
dar-lhe cumprimento”, afirma: ou que Ele acrescentará à Lei o que lhe falta, ou
que cumprirá o que ela contém. De fato, quem acrescenta uma coisa ao que falta
certamente não destrói o que encontrou, mas confirma-o, aperfeiçoando. Desse
modo, praticando-se aquelas coisas a mais, para alcançar a perfeição, com muito
mais razão se há de cumprir as que previamente estavam prescritas com premissas
delas. AGOSTINHO, S., O Sermão da Montanha. São Paulo:
Paulinas, 1992, p. 41.
[49] A lição do bom samaritano não
nos exorta apenas a ajudar os necessitados. É uma abordagem demasiadamente
simplista afirmar que a mensagem principal de Jesus é demonstrar bondade para
um estranho. Ele contou essa história para ilustrar o quanto nós ficamos aquém
daquilo que a Lei de Deus realmente exige. MACARTHUR, J., Os mistérios do Reino de Deus revelados nas histórias contadas pelo
Salvador. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016, p. 106.
[50] “O amor ao próximo torna-se em
primeiro lugar o amor ao inimigo (Mt 5,43-45). No caso, o inimigo, não
significa apenas inimigo pessoal. Ao contrário, fala-se de ‘inimigos” como um
grupo que dispõe do poder de perseguição e de discriminação. Por conseguinte, o
mandamento também não é dirigido a um individuo, no singular, mas a uma
coletividade, no plural: “Amai os vossos inimigos!”. THEISSEN, G., op. cit. p.101.
[51] Cf. Lc 10.25-37
[52] Lv 19.18
[53] “O fato dum teólogo estudado
perguntar a um leigo pela via para a vida eterna era naquele tempo tão incomum
como seria hoje, e deve-se explicá-lo pelo fato de este homem, ter ficado, pela
pregação de Jesus com sobressalto de consciência. O fato de Jesus
surpreendentemente remetê-lo ao agir como sendo a via para a vida, deve-se
entender a partir igualmente desta situação concreta: todo conhecimento
teológico de nada serve se amor para com Deus e para com o próximo não
determinar a direção da vida.” JEREMIAS, J., As parábolas de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1878, p. 202.
[54] A definição de próximo
frequentemente de quem a faz. O seu próximo pode ser o inimigo de outrem. Para
um judeu, o próximo era outro Judeu, ou um prosélito completo. Os fariseus
limitavam ainda mais essa acepção, excluído pessoas como publicanos e
pecadores. Jesus respondeu à pergunta com uma parábola, que devastou esses
padrões de pensamentos reconhecidos como válidos. Ao citar o samaritano,
que choque e ira o exemplo de Jesus deve
ter suscitado entre seus ouvintes! Podemos entender como eles se sentiram se
tivermos o mesmo tipo de preconceito em relação a pessoas de outra raça, como
os judeus e samaritanos tinham uns pelos outros. ALLEN, C. J., Comentário Bíblico Broadman. Rio de
Janeiro: JUERP, 1983, p. 118.
[55] O samaritano supriu várias
necessidades do homem ferido. A primeira ajuda que ofereceu foi sua presença física
“chegou perto dele”. O samaritano também
ofereceu outro tipo de ajuda, providenciou tratamento médico emergencial,
transporte até um abrigo e cuidado médico subsequente na hospedaria. Mas ainda,
ele pagou a hospedagem do ferido até que este se recuperasse totalmente ou até
a sua volta. KELLER, T., Ministério de
Misericórdia: o chamado para a estrada de Jericó. São Paulo: Vida Nova,
2016, p. 53.
[56] Cf. Mt 20.1-16
[57] Cf. Lc 15.11-32
[58] Cf. Mt 22.36-40; 25.35,36
[59] BARCLAY, W., Comentário do Novo Testamento, Mateus. Buenos Aires: Asociación Ediciones La Aurora, 1984, p. 745.
[60] Mt 9.35,36
[61] A diaconia é a apresentação do
Reino enquanto inversão de critérios de valores e atribuições pessoais e sociais. O Reino é um lugar onde todos
servem, a começar pelos maiores. A diaconia é sinal do Reino enquanto graça,
virtude, compaixão, solidariedade e vida partilhada com os outros,
independentemente de suas condições econômicas ou de status social. MAZZAROLO,
I., Lucas em João; Uma nova leitura dos
evangelhos. Porto Alegre: Mazzarolo, 2000, p. 118.
[62] Cf. Lc 23.14,15
[63] Cf. Mt 28.16-20
[64] O livro dos Atos apresenta uma
narrativa bastante completa dos atos dos primeiros cristãos, desde a ascensão
de Jesus até a chegada de Paulo em Roma. Esses são os acontecimentos da igreja
que parte de Jerusalém a caminho da “extremidade da terra”, isto é, voltada
para a porta do estreito de Gibraltar, na direção da península Ibérica. De
Jerusalém a Roma era o caminho entre o ponto de partida - Jerusalém – e a meta
a ser alcançada – Roma – e mais tarde a Espanha. MAZZAROLO, I., Atos dos Apóstolos ou Evangelho do Espírito
Santo. Rio de Janeiro, Mazzarolo, 2014, p. 22.
[65] At 4.34,35
[66] Parece que a pobreza alcançou
muito cedo os cristãos de Jerusalém. Talvez os que se opuseram à expansão do
cristianismo tivessem exercido pressões econômicas sobre eles. O fato de
aceitar o cristianismo por vezes resulta no rompimento de certos laços sociais
e na eliminação de certos círculos econômicos.
Os necessitados, na igreja primitiva, não foram negligenciados, mas
assistidos por aqueles que, possuindo casas ou outras propriedades as venderam
e entregaram o dinheiro aos apóstolos para ser distribuído com aqueles que
tinham necessidades. VIERTEL, W. E., O
crescimento da Igreja Primitiva: um estudo do livro de Atos. Rio de
Janeiro: JUERP, 1976, p. 44.
[69] Atos esclarece um pouco mais
sobre o amor e a justiça praticados pela igreja primitiva. A igreja em
Jerusalém desenvolveu um ministério chamado “diakonia diária” (At 6.1) .
Tratava-se da distribuição diária de alimento e outros recursos às viúvas
pobres que eram totalmente amparadas pela igreja. A palavra grega diakonia
passou a significar no Novo Testamento,
“serviço humilde às necessidades práticas, e o “ministério diaconal tornou-se
parte vital da vida comunitária primitiva. KELLER, T., Ministério de Misericórdia: o chamado para a estrada de Jericó. São
Paulo: Vida Nova, 2016, p. 74.
[70] CAIRNS, E. O Cristianismo através
dos séculos, uma história da Igreja cristã. São Paulo, Edições Vida Nova,
1992, p. 64.
[71] Cf. At 11.29
[72] Rm 2.11
[73] Cf. Rm 13.10, Gl 5.14
[74] “É difícil duvidar que Paulo, ao
descrever assim o amor, não tivesse em mente o amor de Deus em Cristo, e o
resumo da lei dado pelo próprio Jesus no mandamento do amor ao próximo.
Semelhantemente inferência decorre do fato de ele chamar o amor de fruto primário
do Espírito, ou seja aquele que tudo inclui (Gl 5,22-33) É exatamente esse amor
que identifica e define o Espírito como o Espírito de Cristo, o Espírito de
Cristo se dá a si mesmo, do Cristo crucificado. A questão aqui é que este amor
tem mais valor, é marca de maior maturidade, e seus efeitos são mais duradouros
que qualquer carisma (1Cor 13,8-13). Paulo deixa entender que é perfeitamente
possível experimentar um carisma sem amor e esforça-se por enfatizar que o
carisma divorciado do amor é inútil”. DUNN, J. D. G., A Teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2008, p.672.
[75] Gl 3.28
[76] Cf. Gl 6.9,10
[77] “Se a expressão paulina “em
Cristo tem sua afinidade e correspondência na expressão joanina “no Espírito”,
a cristologização do culto traz consigo uma pneumatologização do mesmo. O
Pneuma constitui as “primícias” e os “penhores” da vida escatológica, que
permitiu os fieis experimentassem de antemão. Em consequência, as expressões
sacras e cúlticas também são empregadas no Novo Testamento para designar as
ações e os dons do Espírito. Desse modo, a existência integra do fiel no mundo,
vivida na fidelidade ao Espírito de Cristo, pode chegar a converter-se em
“culto espiritual”, no culto perfeito dos últimos tempo, como disse Paulo, na
célebre passagem aos Romanos 12,1. Paulo
convida a um culto novo; é a liturgia de suas vidas, o culto secular da
existência presente no mundo, mas que não capitula diante dos critérios
imanentes deste. Nos versículos seguintes, fala-se de carismas diversos na
comunidade cristã; esses dons de serviço exercidos no seio da comunidade também
se transformam em serviço para os que se acham fora dela. Mas só pode prestar
esse serviço uma comunidade que se deixa modelar pelo seu Senhor; somente uma
comunidade que leve Deus a sério pode oferecer ao mundo esse “culto
espiritual”. BASURKO, X., “A vida
litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica”. In: BOROBIO, D.
(org.), A celebração na Igreja. Liturgia
e sacramentologia fundamental. São Paulo: Loyola, 1990, p.47.
[78] Tg 2.14-17
[79] 1Pe 3.11
[80] 1Jo 3.16-18
[81] Na doutrina dos Padres da
igreja, vem em primeiro plano o aspecto moral que justifica a escravidão:
aquele que não é capaz de governar a si próprio, especialmente por causa de sua
inferioridade moral, deve ser guiado por aqueles que lhe são moralmente superiores.
A escravidão aparece assim como castigo, e, ao mesmo tempo, como meio de
salvação. (...) A escravidão existe como um fato social, para não dizer como
uma fatalidade, com a qual é necessário conviver, como com a fatalidade da dor
e da morte, em face das quais a humanidade toma uma série de medidas para
torná-las menos amargas, mas não pretende, nem acha possível, eliminar.
VENDRAME, C., A escravidão na Bíblia.
Rio de Janeiro: Ática, 1981, p. 81.
[82] A revolução estendeu-se ao
campo, com maior violência ainda: os camponeses endividados ou empobrecidos
saquearam as propriedades feudais remanescentes, invadiram e queimaram os
castelos e cartórios, para destruir os títulos de propriedade das terras.
Temendo o radicalismo camponês, na noite de 4 de agosto, a Assembleia Nacional
Constituinte aprovou a abolição dos direitos feudais, gradualmente e mediante
amortização, além de aprovar o confisco das terras da Igreja: a igualdade
jurídica seria doravante a regra, sendo também suprimido o dízimo eclesiástico.
COGGIOLA, O., Novamente,
a Revolução Francesa. http://revistas.pucsp.br/index.php/
revph/article/view/17137 - Acessado 23/09/16.
[83] A guerra de Secessão, como ficou
conhecida a guerra civil americana, ocorreu de 1861 a 1865 e dividiu os estados
da União entre estados do sul rural e estados do Norte urbano. A eleição do
abolicionista Abraham Lincoln (1809 – 1865) para a presidência dos Estados
Unidos, em 1860, provocou a secessão dos estados do sul, que criaram um novo
país, os Estados Confederados da América, presidido por Jefferson Davis (1808 –
1889). No ano seguinte o país estava dividido em dezenove estados onde a
escravidão era proibida e quinze estado onde a escravidão era permitida. Os
conflitos entre Sul e Norte tiveram reflexos nas principais denominações
evangélicas dos Estados Unidos. FERREIRA, F., A Igreja cristã na História, das origens aos dias atuais. São
Paulo: Vida Nova, 2013, p. 226.
[84] O aparecimento
da evolução darwinista, o surgimento da crítica bíblica no cenário
norte-americano através dos alunos que estudavam na Alemanha e na Escócia, e a
importação do idealismo germânico, levaram as igrejas norte-americanas ao
liberalismo no século XIX. A teologia liberal ressaltava a mensagem ética de um
Cristo humanizado e a imanência de Deus no coração do homem; desse modo, a
experiência era mais normativa do que a Bíblia. CAIRNS, E., O
Cristianismo através dos séculos, uma história da Igreja cristã. São Paulo,
Edições Vida Nova, 1992, p. 406.
[85] Esse termo
significa a crítica bíblica em todos os assuntos que vão além da critica
textual. Pode ser positiva ou negativa, o termo em si é neutro. CHAMPLIN, R.N.,
“crítica alta” In: CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia
de Bíblia, teologia e filosofia. Volume 1. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 990.
[86] “A guerra, com as prolongadas
violências e atrocidades a que foram por muito tempo estimulados os milhões de
homens ocupados nos combates e com as destruições e misérias que atingiram
pesadamente as populações civis, causou, aliás, uma diminuição da prática
religiosa, que se estendeu significativamente até as áreas rurais, às mulheres,
aos jovens, que até o momento eram menos permeáveis aos processos de
secularização.” POTESTÀ, G. L., História
do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013, p. 337.
[87]
Durante a Segunda Guerra Mundial, vários cristão alemães foram proibidos
de pregar e ensinar por resistirem ao regime nazista. O primeiro mártir da
igreja alemã foi o pastor reformado Paul Schneider (1897 – 1939), que foi preso
em 1934 por pregar exclusivamente a mensagem evangélica no funeral de um membro
da Juventude Hitlerista. Talvez o mais conhecido mártir católico dessa época
foi o frade franciscano polonês Maximilian Kolbe (1894 – 1941), preso por
abrigar quase dois mil judeus em seu mosteiro e executado em lugar de um pai de
família no campo de concentração de Auschwitz. FERREIRA, F., A Igreja cristã na História, das origens aos
dias atuais. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 263.
[88]
Ao final do século XIX, os evangélicos responderam aos ataques lançadas
contra a fé cristã. Contra o liberalismo teológico, um grupo de eminentes
teólogos britânicos e americanos deu sua resposta em 1910, na coleção de textos
conhecida como Os Fundamentos, deitada por R. A. Torrey. Eles reafirmaram como
absolutamente essenciais à fé cristã as seguintes doutrinas: a inspiração das
Escrituras por meio do Espírito Santo, o nascimento virginal de Cristo, sua
morte salvadora e vicária, a realidade histórica de seus milagres e da ressurreição
corporal de Cristo e seu retorno final em glória – enfatizando missões e
evangelização. Esses escritores, que passaram a ser conhecidos como
fundamentalistas, lutavam para manter as doutrinas e as confissões de fé
históricas, enquanto os liberais buscavam reinterpretá-las ou negá-las. idem, p. 247.
[89] Se o Evangelho Social foi uma
das expressões diretas do liberalismo teológico protestante, o fundamentalismo
surgiu como uma reação também direta à acolhida que o liberalismo dava aos
preceitos e métodos da ciência moderna, principalmente à influência crescente
do evolucionismo. O ponto de partida do fundamentalismo foi dado na célebre
Conferência Bíblica de Niágara, em 1878. Em poucas palavras, o fundamentalismo
se define pela defesa da ortodoxia protestante a respeito da Bíblia como
infalível e acima de qualquer reinterpretação que parta da ciência moderna,
principalmente do evolucionismo.
MENDONÇA, A. G., “O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas”. In:
REVISTA USP, n.67, (2005), p. 56.
[90] Um desses movimentos foi o do
Evangelho Social, que se liga diretamente ao pastor batista norte-americano
Walter Rauschenbusch (1861-1918). Ligado ao protestantismo liberal,
Rauschenbusch, após estudos na Alemanha, desenvolveu seu ministério pastoral
entre imigrantes alemães numa das áreas mais pobres de Nova York, e entrou num
debate sobre os direitos das classes trabalhadoras. Convencido de que o pecado
era tanto social como individual, talvez mais social, Rauschenbusch abandonou,
como os liberais, toda teologia metafísica em favor de uma teologia dedicada ao
reino de Deus neste mundo em lugar de uma meta ultraterrena. Traços do
marxismo, sem dúvida, estão presentes no pensamento do Evangelho Social quando,
de modo mais direto, o protestantismo passa a pensar também nas relações entre
os indivíduos. O Evangelho Social, enquanto corrente teológica, foi bloqueado
no Brasil. Idem, p. 57.
[92] O protestantismo
latino-americano, particularmente o brasileiro, mal chegou aos umbrais da
Teologia da Libertação. Mas mesmo a simples aproximação dela através do
movimento de Isal foi suficiente para o endurecimento das igrejas e o início de
um processo de repressão, especialmente pela identificação que as alas
conservadoras das igrejas faziam entre ecumenismo e comunismo e a pressão
fundamentalista tanto interna como externa. Além de tudo, por trás estava já o
período de repressão do regime militar. A pressão fundamentalista externa,
representada pela presença cada vez maior no Brasil das chamadas missões para
eclesiásticas, ou missões de fé, assim como os clarões ainda visíveis do
macarthismo provocaram o expurgo progressivo da ala chamada liberal ou
modernista das igrejas representada por estudantes universitários, seminaristas
e jovens pastores. Em 1968, ao menos dois seminários presbiterianos e um
metodista foram fechados e seus alunos expulsos. Colaborou bastante, sem
dúvida, a generalização do movimento de “contracultura” com seus reflexos entre
os estudantes brasileiros. MENDONÇA, A. G., op. cit. p. 64.
[93] JOHNSTONE, P., A Igreja é maior do que você pensa. Camanducaia:
Missão Horizonte, 1998, p. 279.
[95] A Conferência do Nordeste, com
repercussão nacional e internacional, causou grande impacto dentro das
igrejas. A situação agravou-se com a chegada de novo “bando de teologias
novas”, a intensificação do conflito entre fundamentalismo e ecumenismo e o golpe
militar de 64. MENDONÇA, A. G., op. cit. p. 62.
[96] LESSA, H. S.. Ação Social cristã.
Rio de Janeiro: Movimento “Diretriz Evangélica”, 1969, p. 74.
[97]
Cf. Mt 16.18 e Jo 13.34-35
[99] Cristo glorificado tem
verdadeiramente um corpo terreno, no qual os crentes são realmente incorporados
com todo o seu ser, devendo por isso, ter um comportamento correspondente.
KAESEMANN, E., Perspectivas Paulinas.
São Paulo: Paulinas, 1980, p. 118.
[100] Mediante esta figura de
linguagem, vários conceitos teológicos importantes são expressos no tocante à
igreja. Os cristãos formam uma união com Cristo e uns com os outros, e Cristo é
reconhecido tanto como autoridade que é posta sobre a igreja quanto aquele que
lhe dá vida e crescimento. Além disso, esta figura de linguagem é uma afirmação
marcante a respeito da necessidade e da apreciação dos diversos dons que Deus
dá à Igreja. OSMANSON, R. L., “Igreja”. In: ELWELL, W. A. (Ed.) Enciclopédia histórico-teológica da igreja
Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992, p. 290.
[101] Cf. Rm 6.1-5
[102] Cf. 1 Co 11.17-34
[103] A Igreja consiste nos crentes em
Jesus Cristo, batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
compromissados uns aos outros em amor, chamados para fora deste mundo a fim de
viverem em uma comunhão de adoração, cuidado e testemunho. A palavra igreja
pode referir-se à igreja universal, ou seja, a todos os crentes da era
presente. E também se refere a um corpo ou grupo local de crentes que se reúnem
em determinado lugar. Os primeiros cristãos estavam bem cientes de outras
congregações, a ponto de, movidos a compaixão e atitude sacrificial,
partilharem dinheiro e bens com igrejas de outras localidades. HAYES, E., op. cit. p. 25.
[104] Segundo Karl Barth, “No Novo
Testamento ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para
ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter diante de nós o
beneficio que recebemos de servir e trabalhar na igreja”. (The Faith of the Church: A Commentary on
the Apostle’s Creed According to Calvin’s Catechism, p.116.) Citação
de FERREIRA, F. em REGA, L. S.(org) Paulo
e sua teologia. São Paulo: Vida, 2009, p. 211.
[105] Cremos que a igreja possui dupla
identidade. Por um lado, somos chamados para fora do mundo, para pertencermos a
Deus, e por outro, somos enviados de volta para o mundo para testemunhar e
servir. Além disso, a missão da igreja segue o modelo da missão do Cristo. Ele
mesmo disse isso: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20.21). STOTT,
J.R. W., A igreja autêntica. São
Paulo: ABU, 2013, p. 18.
[106] Cf. Jo 1.14 e Fp 2.6-8
[107] O batismo não é coisa
inteiramente nova nos dias de Jesus. Os egípcios, os persas e os hindus tinham
todos as suas purificações religiosas. Estas eram mais proeminentes ainda nas
religiões gregas e romanas. Às vezes eles tomavam banho de mar, e às vezes eram
efetuadas por aspersão. Diz Tertuliano que, nalguns casos, a ideia de um novo
nascimento estava ligada a estas instruções. Os judeus tinham muitas
purificações e abluções, mas estas não tinham caráter sacramental e, portanto,
não eram sinais e selo de aliança. O chamado batismo dos prosélitos tinha maior
semelhança com o batismo cristão. Quando os gentios eram incorporados a Israel,
eles eram circuncidados e, pelo menos em tempos mais tardios, também eram
batizados. BERKHOF, L., op.
cit. p. 627.
[108] Cf. Mt 3.1-12; Mc 1.1-8;
Lc 3.1-18; Jo 1.6-8, 19-36
[109] O batismo constitui um momento
forte na explicitação da consciência messiânica de Jesus. É também um sinal de
sua vida de servidor que acabará por conduzi-lo à morte (cf Lc 12.50). Como
servidor, aliás, Jesus carrega os pecados do povo (cf. Is 53.1ss). Agora
podemos compreender por que Jesus é batizado com o povo: como servo de Iahweh,
ele é solitário com seus irmãos, com o povo pecador. RUBIO, A. G. op cit, p.
30.
[110] ALLEN, C. J., Comentário Bíblico Broadman: Novo
Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1986, p. 127.
[111] Cf. Mt. 28.19,20
[112] Não podemos estar certos se
antes do fim do período neotestamentário já tinha se desenvolvido o uso de um
longo catecumenato antes do batismo. Parece bem possível que frequentemente uma
pessoa fosse batizada, enquanto membro de uma família inteira, depois de ter
ouvido uma única vez no mínimo do “Evangelho”, e que só depois se submetesse a
um ensinamento mais aprofundado. MOULE, C. F. D., As origens do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 150.
[113] SANTANA, L. F. R., Liturgia no Espírito: o culto cristão como
experiência do Espírito Santo na fé e na vida. Rio de Janeiro: PUC, 2015,
p. 119.
[114] FERREIRA, F.; MYATT, A,. Teologia sistemática: uma analise histórica,
bíblica, e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, p. 919.
[115] O dom do Espírito, prometido por
Jesus à sua Igreja e derramado na assembleia do Cenáculo, é o agente divino que
torna possível o desejo de Deus estar em comunhão com o seu povo. SANTANA, L.
F. R., op. cit. p. 180.
[116] No batismo morre o ser humano com
seu velho mundo. Essa morte deve ser concebida rigorosamente como acontecimento
passivo. Não está na pessoa provocar tal morte por toda sorte de renuncia e
carência voluntária. Tal morte jamais seria a morte do velho homem que Cristo
exige. O velho ser humano não pode matar-se a si mesmo. Não pode querer a sua
própria morte. O ser humano morre somente em Cristo, por Cristo, com Cristo.
Cristo é a sua morte. O ser humano morre por amor à comunhão com Cristo e
somente nela. Com a comunhão com Cristo, na graça do Batismo, o ser humano
recebe a sua morte. Esta morte é a graça que o ser humano jamais pode produzir
por si mesmo. A morte significa juízo do velho ser humano e de seus pecados,
mas deste juízo nasce o novo ser humano que morreu para o mundo e para o
pecado. BONHOEFFER, D., Discipulado.
São Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 144.
[117] LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento. Rio de
Janeiro: JUERP, 1985, p. 329.
[118] MAZZAROLO, I., Atos dos Apóstolos ou Evangelho do Espírito
Santo. Rio de Janeiro: Mazzarolo Editor, 2014, p. 65.
[119] Rm 6.4 - Paulo usa a expressão
de morrer e ressuscitar com Cristo para expressar a mesma verdade (Rm 6.1-11).
O batismo em Cristo (v. 3) significa união com ele em sua morte e ser sepultado
com ele, o que, por sua vez, significa morte para o pecado, a crucificação do
homem velho e a destruição do “corpo do pecado” (v. 6). Do lado positivo, isto
significa libertação do pecado e vida para Deus. Nesta passagem, a ressurreição
com Cristo é futura e escatológica (v. 5 e 7), mas Efésios 2.5,6 fala de uma ressurreição presente com
Cristo, e o enunciado de que estamos vivos para Deus (v. 11) mostra que esta
ideia está em sua mente em Romanos 6. LADD, G. E., op. cit. p. 452.
[120] MAZZAROLO, I., A Carta de Paulo aos Romanos: Educar para a
maturidade e o amor. Rio de Janeiro: Mazzarolo Editor, 2006, p. 87.
[121] Mt 26.17-30; Mc 14.10-11 e Lc
22.3-6
[122] Existem pontos de vista
divergentes quanto à interpretação do significado da Ceia, os quais não são é
objeto deste trabalho. Conforme afirma TRIBLE: Um considera-a como sacramento
trazendo graça salvadora ao participante dela. Outra afirma que a presença real
de Cristo se verifica junto ao pão e vinho. O outro ponto de vista é que pão e
vinho são apenas símbolos do corpo e do sangue de Jesus. TRIBLE, H. W., Nossas doutrinas. Rio de Janeiro: JUERP,
1989, p. 88.
[123] Nos primórdios da igreja, a ceia
do Senhor era o centro da vida espiritual, celebrada todos os domingos, e sua
importância aumentava cada vez mais.
FERREIRA, F.; MYATT, A,. op. cit. p.
941.
[124] Uma maneira erra de se tentar uma compreensão da última ceia de Jesus
seria começar pelos ditos interpretativos, porque assim a chamada “ceia da
instituição” ficaria isolada. De fato dever-se-ia dizer que este isolamento da
última ceia dificultou pelos séculos afora o reconhecimento do seu conteúdo e
sentido escatológicos. Na realidade, a “ceia da instituição” não passa dum elo
numa grande cadeia de refeições de Jesus com seus seguidores então continuaram
depois da Páscoa. Estas comunhões de mesa de Jesus, que suscitaram tão grande
escândalo pelo fato de Jesus não ter excluído ninguém delas, nem sequer os
pecadores públicos, e que precisamente por isso expressavam o coração da sua
mensagem, eram figuras do festim dos tempos da salvação (Mc 2.18-20). É nesta
cadeia de comunhões da mesa que a ultima ceia de Jesus acha seu enraizamento
histórico. Ela é, como todas, doação antecipatória da consumação (Lc 22.16; Mc
14.25) JEREMIAS, J.,
Teologia do Novo Testamento. São
Paulo: Paulinas, 1877, p. 438.
[125] Jo 14.12
[126] Mt 4.23 e 9.35
[127] Missão descreve tudo que a
igreja é enviada a fazer no mundo, a saber, serviço cristão no mundo
compreendendo tanto evangelização como ação social. STOTT,
J. R. W., Ouça o Espírito, ouça o mundo, São Paulo: ABU, 1998, p.381.
[128] Todos os cristãos são chamados
para o ministério (diakonia). Porque somos seguidores daquele que disse ter vindo não para ser servido, mas
para servir (Mc 10.45), é inconcebível que gastemos nossa vida de outra maneira
que não no ministério ou serviço. Mas há uma vasta diversidade de dons,
chamados e ministérios, e precisamos descobrir nossos dons e ajudar os outros a
descobrir os deles. STOTT, J. R. W. A
Igreja autêntica. Viçosa: Ultimato, 2013, p. 71.
[129] Auxílio social diz respeito a
auxílio temporário, curativo, tal como doações de cestas básicas ou ajuda a uma
comunidade após uma calamidade. Oportunidade social é definida pelas ações que
providenciam oportunidades para pessoas marginalizadas participarem ativamente
na sociedade. Transformação social é quando a comunidade engaja-se na
transformação das condições sociais em que ela vive.
[130] Glória do Goitá é um município de Pernambuco situado na região da Zona da Mata,
segundo o censo do IBGE de 2010 a população total é 29.675, sendo na área Urbana 15.631
e na área rural 14.044. http:// www.
ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/ total_população_pernambuco.pdf
(acessado em 24 de outubro de 2016)
[131] O autor deste trabalho foi
pastor da Primeira Igreja Batista em Glória do Goitá de fevereiro de 1995 a
junho de 1998.
[132] Gravatá é um município de
Pernambuco, situado na região da Zona da Mata,
segundo o censo do IBGE de 2010 a população total é 76.458, sendo na área Urbana 68.385
e na área rural 8.073. http:// www.
ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/ total_população _ pernambuco.pdf
(acessado em 24 de outubro de 2016)
[133] A crianças para participarem do
Projeto Viver Feliz tinha que estar matriculada no sistema regular de ensino, e
ficavam no Projeto no horário contrario ao seu turno de aula.
[134]
O Colégio Batista Betânia em Gravatá tem por Princípio Pedagógico
promover o amplo desenvolvimento das capacidades dos alunos, como as de relação
interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as éticas, mediante o processo de
construção e reconstrução do conhecimento. Em relação ao Princípio Filosófico o
trabalho educativo será alicerçado na filosofia da igualdade dos direitos e
deveres propiciando a socialização do homem, contribuindo para o reconhecimento
do outro e a constatação das diferenças culturais entre as pessoas em que as
mesmas sejam valorizadas e aproveitadas para o reconhecimento de si próprio.
Seu princípio religioso é promover a consciência religiosa do individuo
tratando holisticamente todo o ser a partir dos princípios cristãos. Baseando
seus valores a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo registrados nos
evangelhos e confirmados pelos demais livros da Bíblia Sagrada. http://www.cbbggravata.com.br/ homepage/quem-somos (Acessado em
25 de outubro de 2016)
[135]
O autor deste trabalho foi pastor da Igreja Batista Betânia em Gravatá
de Julho de 1998 a julho de 2004.
[136] [136] O
autor deste trabalho foi pastor da Igreja Batista da Cidade Nova de agosto de 2006 a julho de 2014.