NÃO PODEMOS NEGLIGÊNCIAR!
(Tenho respeito pela história!)
(31 de outubro de 2023 – 506 anos da
Reforma Protestante)
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, ³ como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Esta salvação, primeiramente anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram. (Hebreus 2:1-3 NVI)
Em 31 de outubro comemoramos os 506 anos da Reforma Protestante,
na cidade de Wittemberg, na Alemanha, um homem incomodado com os
desmandos da igreja como instituição e a comercialização da fé, seguindo a
tradição da época, afixou 95 teses
na porta da Igreja daquela cidade. Martinho Lutero, foi o porta voz
de todos aqueles que buscavam na Palavra de Deus o caminho que a Igreja havia
se desviado. Poderíamos afirmar que a intenção de Lutero não era uma cisão da
Igreja, mas sim uma mudança resgatando os valores da Bíblia, Palavra de Deus.
Ressaltamos milhares de pessoas
anônimas que lutaram pela preservação e fidelidade da Palavra de Deus. Como é triste olharmos nos nossos dias
pessoas que se dizem cristãos não conhecerem e consequentemente não valorizarem
os que os antecederam. João Calvino (1509 – 1564), Philipp Melanchthon
(1497 – 1560), Ulrico Zuínglio (1484 – 1531), Thomas Müntzer (1489 – 1525),
Martin Bucer (1491 – 1551), Johannes Brenz (1499 – 1570), Jan Hus (1369 – 1415)
e Johannes Bugenhagen (1485 – 1558); são alguns dos nomes de homens
que se juntaram para fazer com que a igreja voltasse para os princípios do
Evangelho.
Haviam pontos de discordância doutrinária entre
eles, mas eram unanimes em que somente Cristo é a porta de acesso ao Pai,
Ele é o único mediador entre Deus e os homens. “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus,...” (1 Timóteo 2:5 NVI)
O movimento histórico que teve
como marco 31 de outubro de 1517, não foi apenas um movimento religioso ou
cristão, na realidade a Europa foi sacudida
por mudanças nas relações comerciais, na valorização da pessoa humana, com o
fim do absolutismo e no advento da democracia, as lutas de classes, a migração
de uma sociedade feudal para uma sociedade urbana.
Erros
houveram, e não foram poucos; errar é demonstração clara que somos humanos e
falíveis; mas não podemos deixar de lembrar de homens e mulheres que mesmo com
a expectativa de perseguição e até do martírio, permaneceram firmes na
convicção de que serviam ao Deus imutável, e que a sua Palavra é viva e eficaz,
independentemente de qualquer circunstância. É a Palavra que transforma homens
e mulheres. Como é triste olharmos para traz e vermos que desde o tempo de
Jesus, dos patriarcas e dos profetas homens se levantando para desvirtuar a
Palavra do Deus Eterno.
Sola
Scriptura,
Solus
Christus,
Sola
Gratia,
Sola
Fide, e
Soli
Deo Gloria;
Somente a Escritura, Somente Cristo, Só a Graça, Só
a Fé e Somente a Deus a Glória são os pilares do movimento reformador, muitas
vezes estamos tão distantes dessas verdades.
No Evangelho
de Marcos capítulo 15, observamos o julgamento, humilhação, crucificação e
morte de Jesus, o Cristo. Quando leio essa passagem nos evangelhos, me
pergunto:
- Me
comportaria como os líderes religiosos daquela época?
- Meu
comportamento seria como o povo que gritou Barrabás?
- Estaria
disponível como Simão para carregar uma cruz que não era minha?
- Seria eu
como o centurião que diante daquela macabra cena reconhece que Jesus é o filho
de Deus?
Ainda vem a
minha mente, como se audivelmente, a multidão gritando:
- "Crucifica-o" (Marcos
15:13 NVI)
No mesmo
instante me sobressai várias perguntas:
- Cadê
os discípulos de Jesus? Onde estão eles?
- Cadê a
multidão que depois de uma excelente aula foi alimentada?
- Bartimeu,
que gritava filho de Davi tenha misericórdia de mim, não ouço a sua voz?
- E os
leprosos que foram limpos? A pessoas que foram libertas e curadas?
- Cadê a
multidão que alguns dias antes proclamavam Hosanas ao que vem em nome do
Senhor?
Diante de tudo
isso, usando uma frase atribuída a Marthin Luther King, chamo a
atenção ao nosso posicionamento diante das heresias e injustiças que nos
cercam:
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos,
dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me
preocupa é o silêncio dos bons. ”
Julgar os
personagens históricos é fácil, mas olhemos para as dificuldades que
enfrentamos como povo de Deus, igreja de Cristo, em pleno século XXI:
Os reformadores
combatiam a venda de bênçãos (indulgências), como é triste observarmos pessoas
explorando e comercializando a fé e a ignorância do povo, distorcendo a verdade
do evangelho vendendo bênçãos (prosperidade);
Os reformadores
lutaram para que homens e mulheres tivessem acesso a Palavra de Deus (Somente
as Escrituras) no seu próprio idioma, para muitos a Palavra de Deus está sendo
colocada como algo secundário, temos a Bíblia disponível, facilidade de acesso
a Palavra, mas estamos ocupados com tantas coisas que não temos tempo para
estudar, meditar e viver a Palavra;
Os reformadores
lutaram para que Cristo fosse o centro da vida Cristã, a único e completa razão
do nosso acesso a Deus e da nossa Salvação, (somente Cristo) fico imaginando o
que Jesus Cristo diria daqueles que estão criando “atalhos” ou “fardos”
para a salvação;
Os
reformadores afirmaram o sacerdócio universal de cada cristão, não existe mas
distinção no meio do povo de Deus entre os cleros e leigos, entre os sacerdotes
e o povo; “E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a
baixo.” (Marcos 15:38 NVI) Como me preocupa líderes se
colocando como sacerdotes poderosos e criando cortinas para atrapalhar o acesso
do povo a presença de Deus.
Olhando para o
Cristo na cruz observo uma multidão sem compromisso, massa de manobra de
líderes inescrupulosos, que não sejamos massa de manobra, pelo contrário,
sejamos estimulados a pensar, estudar e viver os princípios dos evangelhos.
Observo,
ainda, um líder político sem compromisso com a justiça e a verdade, como o povo
tem sofrido com pessoas dessa estirpe da condução do destino das nações.
Pilatos é a personificação da liderança corrupta que pensa somente em si, sem
comprometimento com a verdade, o importante é estar com boa imagem diante de
Roma e não cumprindo com sua responsabilidade. "Que farei então com
Jesus, chamado Cristo?” (Mateus 27:22 NVI)
Alguns
consideram que precisamos de uma nova reforma, e quando penso em reforma vem à
mente consertar o que está quebrado, deteriorado, desatualizado ou feio.
Na realidade o
que precisamos é de um retorno a Palavra de Deus sem firulas ou relativismo.
Precisamos enfatizar a chamada de todos os cristãos à sermos discípulos do
Cristo ressurreto. Olharmos para cruz, devemos ser comprometidos como as
mulheres que acompanharam Jesus em todas as circunstancias até o final.
Na crucificação, além das dores físicas daquela
tortura cruel, havia ainda os deboches, as humilhações e o peso dos nossos
pecados.
Quem estava ali?
- A mãe de Jesus com algumas amigas, aprendemos
que amizade é para todos os momentos, nas festas e no luto, nas alegrias e na
tristeza.
- Um discípulo de Jesus, que corajosamente está
ali acompanhando o Mestre e dando suporte a Maria (mãe de Jesus). João recebe a
tarefa de cuidar dela, trata-la como mãe, respeitá-la.
- Os criminosos que estavam ali cumprindo a sentença
a eles imposta, um que se arrepende e recebe a promessa da eternidade junto com
Jesus e o outro que arrogantemente debocha e insulta o Mestre.
- Transeuntes e desocupados que vibram em ver
a desgraça alheia.
- A guarda romana, responsável em tomar conta
daquele lugar garantindo o cumprimento da sentença. Como é tremendo a
declaração do comandante daqueles soldados:
“Quando o
centurião que estava em frente de Jesus ouviu o seu brado e viu como ele
morreu, disse: "Realmente este homem era o Filho de Deus! " (Marcos 15:39 NVI)
- O que falarmos
do corajoso José de Arimatéia?
Os crucificados
ficavam com seus corpos expostos aos abutres e os animais carniceiros, mesmo
depois de morto a família não tinha direito a vivenciar o luto. José de
Arimatéia não considera isso justo, era um homem bom e corajoso, o Mestre
merecia dignidade, sua mãe e seus amigos poderiam cuidar do corpo. “José
de Arimatéia, membro de destaque do Sinédrio, que também esperava o Reino de
Deus, dirigiu-se corajosamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus.” (Marcos
15:43 NVI) José de Arimatéia assume
publicamente a sua simpatia por Jesus, o Evangelho de Mateus o trata como
discípulo de Jesus (Mateus 27:57). Chegou a hora da verdade, não dá para ser
somente simpatizante, é preciso mostrar comprometimento, foi isso que José de
Arimatéia fez.
No semana que
antecede a comemoração da Reforma, concluo com uma
pergunta para nossa reflexão:
- Que tipo de Igreja estamos sendo?
Lembrando que
igreja não é instituição, mas sim um organismo vivo, o corpo de Cristo aqui na
terra constituído por pessoas como eu e você.
A Ele, o Deus Eterno, toda honra e toda glória!
Cláudio Eduardo - pastor