segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

CONFRONTO COM A MENTIRA (Suely Barreto)

O texto abaixo é o testemunho da Dra Suely sobre o Natal, vale a pena sua leitura!

CONFRONTO COM A MENTIRA
Suely Barreto


Quando eu era pequena, (e olha que já fui um dia!), meus pais escondiam os brinquedos comprados para o Natal e à meia noite do dia 24 os colocavam em baixo da árvore iluminada, para que pensássemos que “Papai Noel” os havia trazido.
Era uma ansiedade tremenda para nós, crianças da classe média, até ter a certeza de que “ele” atenderia nossos pedidos... Uma bicicleta... Um par de patins... Uma boneca que anda... Um rema-rema... Um “bebezão” de louça...(esse foi o meu preferido). A cada ano pedíamos algo novo e nossos pais se encalacravam todo para dar o mérito ao Papai Noel.
Eu, já com uns oito anos, começava a perceber que Papai Noel não era nada justo, pois aos ricos dava presentes caros e atendia seus pedidos e aos pobres, além de negá-los ainda dava coisas baratas e sem graça que logo quebravam.
Confesso que lá no fundo do meu coração comecei a odiar esse Papai Noel, que me dava presentes bons, mas não dava nada aos meus amiguinhos da casa em frente. Crianças, que no dia de Natal, vestiam suas roupas surradas e iam para a rua olhar os brinquedos de outras crianças que os exibiam felizes. Eu, porém sentia-me constrangida quando meus coleguinhas pediam para segurar minha boneca ou dar uma volta na bicicleta nova e eu percebia que não haviam ganhado nada do tal Papai Noel.
Questionei meus pais e minha mãe percebendo minha aflição, contou-me a verdade:
_ “Filha, Papai Noel não existe, nós é quem compramos os brinquedos que vocês pedem...”
Senti um certo alívio, mas fiquei com raiva e perguntei:
_ “Se vocês compram os brinquedos, porque mentem para nós dizendo que foi Papai Noel?”
Minha mãe ficou cabisbaixa, pois pela primeira e única vez eu a confrontei com a mentira. Ela pediu-me que a desculpasse, pois não mais mentiria para mim. Abraçou-me, beijou-me e percebi a lágrima que brotou em seus olhos.
Você já pensou sobre isso? O que uma mentira que parece tão simples pode criar na mente e na fantasia do seu filho? O que esta mentira pode gerar na emoção da criança? Frustração, raiva, decepção, dúvida...
Já convertida, casei-me com crente e decidimos que não haveria mentira em nossa casa com nossas crianças: nem cegonha, nem Papai Noel, nem fadinha de dentes... Toda esta baboseira cultural que o mundo nos impõe, foram banidas do nosso lar.
Nossos filhos cresceram ouvindo sempre a verdade. Não havia frustração no Natal, pois eles sabiam que se papai pudesse ganhariam alguma coisa, caso contrário, uma roupa, um par de sandálias e pequenas lembranças eram suficientes.
Lembro-me de um certo Natal que se tornou especial, pois minha mãe foi passá-lo conosco. Era uma época difícil para nós financeiramente, morávamos no início da favela do Guarabu na Ilha do Governador e mãezinha quis proporcionar-nos um Natal especial. Chegou cheia de compras para uma ceia, trouxe roupas novas para as crianças, e deu para o Pedrinho (hoje Pedrão), um carrinho movido a pilha, última novidade na praça em matéria de brinquedo. Para que Sônia Lia não se sentisse triste, meu marido comprou à prestação uma boneca chamada “Beijoca” e que era o seu sonho. No dia seguinte ao Natal, demos uma saída para fazer umas visitas e as crianças ficaram com Dorcas, minha “fiel escudeira”
Eles foram para o quintal brincar com seus novos brinquedos, quando passou uma menininha muito pobre que parou para olhar deslumbrada aqueles brinquedos que só via nas lojas. Ela disse para Sônia Lia (minha filha) que não tinha ganhado nenhum brinquedo do tal Papai Noel, e que nunca tivera uma boneca. Sônia Lia, ficou emocionada e deu sua boneca para a menina. Ela feliz disse que seu irmãozinho também não tinha um carrinho, então Sônia Lia pegou e entregou o carrinho do Pedro para o garoto.
Quando cheguei, eles vieram ao meu encontro e minha filha contou o que acontecera... Confesso que me senti desconfortável, pois afinal fizéramos dívida para comprar a boneca, mas lembrei-me de que os ensinamos a amar ao próximo e a fazerem sempre o bem. Abaixei-me, peguei-a no colo , abracei-a e disse:
_Filha, estou orgulhosa de você!
_Mãe... Só que eu disse a ela que Papai Noel não existe, que foi meu pai quem comprou a boneca, e também disse que Natal é o aniversário de Jesus.
Senti uma felicidade enorme ao ouvir isto e pensei: valeu a pena! Foi muito bom não ter mentido para eles.
No Natal em nosso lar, até hoje, comemoramos o Cristo que nasceu em uma manjedoura, porque não havia lugar para Ele. Este Jesus, que é o presente de Deus para a humanidade, que nasceu, cresceu, ensinou-nos deu exemplo de vida e foi morto na cruz carregando toda a nossa culpa.
Que o Senhor possa nos abençoar e que neste Natal e todos os dias agradeçamos a Ele o maior dos presentes: Jesus!
Beijos a todos vocês que me acompanham.

Suely

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